Mesmo com operação policial, roubos, furtos e outros crimes crescem em 2023 | Boqnews
A despeito do aumento do efetivo policial em decorrência de ações, como a Operação Escudo no ano passado, os indicadores em 2023 são piores que no ano anterior. Secretaria de Segurança Pública informa que números no segundo semestre caíram em relação ao primeiro, mostrando uma tendência para 2024. Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Baixada Santista

29 DE FEVEREIRO DE 2024

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Mesmo com operação policial, roubos, furtos e outros crimes crescem em 2023

Baixada Santista registrou elevação de casos como roubos, furtos, inclusive de veículos. Explosão maior ocorre com roubo de cargas – com alta de 198%

Por: Fernando De Maria

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A despeito da Operação Escudo desencadeada no ano passado e a presença de reforço policial  na Baixada Santista, com a continuidade da Operação Verão, 2023 registrou alta de crimes na região.

Ao se comparar com 2022, os números mostram um crescimento substancial em vários tópicos ao longo do ano passado.

Os dados estão disponíveis no portal da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

A pasta, porém, reconhece a alta no primeiro semestre, mas informa que houve redução ao longo do segundo semestre.

No entanto, o resultado final é mais negativo que positivo nas cidades da região, como atestam os números.

Dos sete tópicos separados pela Reportagem do Boqnews, seis deles registraram alta (furtos, roubos de veículos, roubos, furtos de veículos, roubo de carga e estupro).

Homicídios dolosos foram os únicos que representaram uma queda: de 15,3% – caindo de 137 em 2022 para 116 em 2023.

Tudo isso em meio à Operação Escudo que, entre  julho a setembro do ano passado, resultou em 28 mortes em 40 dias.

Indagada, a secretaria não informou em qual tópico no sistema tais mortes foram computadas na listagem de 2023.

Janeiro melhor

Ressalve-se que em janeiro último, com a Operação Verão, ocorreu queda na maior parte dos indicadores nas quatro principais cidades da região, conforme dados da pasta, com exceção de São Vicente.

No entanto, houve explosão de mortes.

Em razão do assassinato de três policiais militares na Baixada Santista nas primeiras semanas de 2024, toda as atenções da Polícia Militar se voltaram para a região.

Como resposta, 38 pessoas tiveram o mesmo fim em um mês – mais de uma morte diária – até o momento.

No boletim de ocorrência, a mesma informação oficial das vítimas: confronto e resistência contra a polícia.

Oficialmente, trata-se do maior número de pessoas mortas envolvendo a Polícia Militar desde o massacre do Carandiru, nos anos 90.

Os Crimes de Maio, ocorridos em 2006, ultrapassaram 500 mortes, mas até hoje os executores são desconhecidos.

 

Violência na periferia

Aliás, a violência policial, que preocupa a população residente nas periferias, só aumenta.

Reportagem publicada pela Agência Pública revela que até as mortes de menores no governo do Estado cresceram 58% no maior estado da federação. (confira o link)

Há relatos de pessoas com deficiência (um cego e outro deficiente físico) assassinadas, algo inclusive presente no relatório da Ouvidoria das Polícias.

Eles fazem parte da lista dos 38 mortos em suposto confronto com a polícia na Operação Verão nas últimas semanas.

“A situação está tensa”, reconhece Débora Silva, uma das fundadoras do grupo Mães de Maio.

Após quase 20 anos da tragédia pessoal, ela revê as cenas do passado.

Afinal, Débora também foi vítima de violência após o assassinato do seu filho, ocorrido em 2006, como resposta aos ataques a policiais por integrantes de uma facção criminosa.

Como resposta, mais de 500 pessoas em todo o Estado foram assassinadas como resposta, às vésperas e na semana do Dia das Mães.

Situação semelhante a muitas mães na atualidade.

Desse montante, cerca de 70 apenas na Baixada Santista, inclusive o filho de Débora – que trabalhava na empresa de limpeza urbana na Cidade e não tinha passagem pela polícia.

Assim, sua luta pelo reconhecimento dos autores dos crimes ganhou repercussão até no exterior.

Inclusive projeção no cinema, onde Débora ganhou prêmio na Espanha como atriz coadjuvante, no filme A Mãe, com a atriz Marcélia Cartaxo.

Violência

O próprio ouvidor da polícia, Claudio Silva, reconhece o grau da violência policial que atinge a Baixada Santista.

Na segunda (26), ele entregou ao procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário Sarrubo, relatório da Ouvidoria de Polícia de São Paulo e de organizações da sociedade civil.

Ouvidor Claudio Silva entregou o documento ao procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário Sarrubo na última segunda. Foto: Divulgação

Ela alerta para uma série violações de direitos humanos provocados por agentes do Estado no âmbito da segunda fase da Operação Escudo – depois mudada pelo secretário Guilherme Derrite para Operação Verão, na Baixada Santista.

Fruto de uma missão realizada em bairros de Santos e São Vicente no dia 11 de fevereiro, o “Relatório de Monitoramento de Violação de Direitos Humanos na Baixada
Santista durante a segunda fase da Operação Escudo” sistematiza as irregularidades da operação.

“Elas incluem homicídios e abordagens violentas, trazendo relatos de vítimas e orientações para que a ação dos agentes policiais em áreas vulneráveis seja executada de
forma a garantir o respeito aos direitos fundamentais”, informa a ouvidoria.

Neste domingo (3), uma comissão formada pelo ouvidor e deputados voltará à Baixada para novas oitivas.

Detalhes ainda serão divulgados.

 

Mudança radical

Vale lembrar que na última semana, o governador Tarcísio de Freitas e o secretário Derrite promoveram uma mudança radical na cúpula da PM paulista.

Ao todo, 34 coronéis foram substituídos por outros, quebrando uma hierarquia, tão comum no meio militar.

Uma fonte ouvida pela Reportagem e ligada ao meio preferiu não opinar, mas reconheceu que a medida do governo paulista foi ‘muita estranha’.

Com carta branca do governador, Derrite optou por substituir coronéis próximos a ele, de claro perfil político.

Além disso, que também se colocam contrários à instalação de câmeras corporais nas vestimentas da PM, como o próprio secretário.

Números

Diante da situação da polícia paulista e do cenário da Baixada Santista, a Reportagem do Boqnews levantou os números da violência nas nove cidades da Baixada Santista na comparação entre 2022 – gestão João Doria/Rodrigo Garcia – com 2023, no governo Tarcísio de Freitas.

E o resultado preocupa, pois mostra um substancial elevação de casos no ano passado.

Caso dos roubos de cargas, que cresceram 197,8% na Baixada Santista.

Passaram de 184 ao longo de 2022 para 548 no ano passado – média de 1,5 por dia.

Outros indicadores também registraram alta elevada.

Os furtos em geral, por exemplo, subiram de 29.560 em 2022 para 31.709 em 2023 – alta de 7,3%.

Ou seja, cerca de 87 por dia – ou quase 1 a cada 15 minutos.

Situação mais complicada em relação aos roubos – alta de 11,6% na comparação dos anos.

Foram 11.808 para 13.178 – 36 por dia ou 1,5 por hora.

Contabilizados à parte, os roubos de veículos tiveram uma elevação ainda maior: 37,1%.

De 1.012 para 1.388.

Os estupros também cresceram: de 123 para 142 – alta de 15,4%. Média de um a cada três dias.

Vale lembrar que estes são os números oficiais, ou seja, com o devido registro na polícia – de forma presencial ou online.

Comparação

O aumento da violência, porém, não ocorreu em outras localidades no Estado de São Paulo na comparação entre 2022 e 2023.

Cidades como Campinas, por exemplo, não tiveram oscilações tão expressivas como as da Baixada Santista. Ao contrário, alguns tópicos recrudesceram.

Na terceira maior cidade do estado de São Paulo, com 1.138.309 habitantes (63% de toda a população da Baixada Santista), Campinas registrou queda de 15,8% no homicídio doloso; 11,9% no roubo de cargas e 5,1% no roubo de veículos.

Subiram furtos (5,3%), roubos (0,7%), furto de veículos (5,8%) e estupros, com o maior percentual, de 50%.

Em Ribeirão Preto, oitava cidade paulista mais populosa no estado, com quase 700 mil habitantes, dos sete indicadores analisados, em quatro ocorreram queda, um não sofreu variação e em dois houve alta.

Roubos caíram 18,5% e roubos de veículos, 13,2%.

Já furtos de veículos, 21,6%, além de homicídios dolosos, 50%.

Subiram furtos (2,9%) e roubos de cargas, 10%.

O crime de estupro se manteve estável.

Coronel da reserva Maurício Izumi analisou o cenário de segurança pública na região durante participação no Jornal Enfoque. Foto: Carla Nascimento

Crime se instalou na região

“O crime se instalou aqui de uns anos para cá”, reconhece o coronel da reserva e ex-secretário de Segurança da Prefeitura de Praia Grande, Maurício Izumi.

Durante o Jornal Enfoque, Izumi mostrou preocupação com o crescimento no volume de crimes na Baixada Santista.

“Infelizmente, o crime está enraizado nestas cidades”, atesta.

No entanto, ele diz que a despeito dos problemas, a Baixada Santista não pode ser comparada ao Rio de Janeiro.

“Não acredito que a região se torne um Rio de Janeiro”, crê, diante da violência registrada na capital carioca.

Ele ressalta que a polícia paulista tem acesso a qualquer área na região.

“Ela nunca permitiu que o crime dominasse alguma região. Onde ele tenta crescer, é rechaçado”, salienta.

Porém, ele reconhece que o PCC – Primeiro Comando da Capital tem diversas ramificações nos mais variados negócios na região, ao contrário do Comando Vermelho, que opta pelo confronto em áreas da capital carioca.

“Hoje, o PCC virou uma empresa. Eles não buscam o confronto, mas o lucro. A concepção da criminalidade de São Paulo e Rio de Janeiro nasceu de forma distinta”, salienta.

Confira o programa

 

Governo do Estado

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informa que tem intensificado os trabalhos investigativos e as ações de policiamento prevento e ostensivo, aliando inteligência e tecnologia às atividades policiais.

“Como resultado das ações integradas, em 2023, a região apresentou redução de 18,1% nos casos de homicídios e um aumento expressivo (9,5%) na quantidade de infratores presos e apreendidos, totalizando 11.246 criminosos detidos”.

“O índice de furtos, que registrava alta de 12% no primeiro semestre, fechou o segundo semestre com redução de 2,5%. Além disso, foi registrada uma desaceleração nos casos de roubos e quedas importantes em ocorrências de roubo de veículo e estupro”.

Atualmente, está em curso, em todo o litoral paulista, a Operação Verão 2023/2024.

A ação já resultou na prisão de 751 criminosos (dados do último dia 23), incluindo 281 procurados pela Justiça.

Além da apreensão de mais de meia tonelada de drogas, além de e 86 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito.

Até o momento, 32 (Nota da Redação: 38, conforme última atualização) pessoas morreram em confronto com a polícia,

Entre elas o líder de uma facção criminosa envolvida com o tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, tribunal do crime e atentado contra agentes públicos.

Todos os casos de mortes em confronto são rigorosamente investigados pela Polícia Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e Poder Judiciário.

 

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