Não são apenas os táxis, escolas e cemitérios que deixam as vias públicas de Santos mais verdes.
Basta circular por ruas e avenidas fora do eixo próximo à orla da praia, que a vegetação – com tons esverdeados, às vezes, pálidos pelo impacto do sol – tem feito cada vez mais parte da paisagem urbana.
O motivo do aumento do volume do mato em vias públicas da Cidade deve-se à diminuição em 2/3 do total de equipes de capinação e raspação.
Se antes eram 15, agora são apenas 5, espalhadas pelas zonas leste (2), noroeste (2) e Morros (1).
Com o corte de pessoal, o problema salta aos olhos.
Segundo a Prefeitura, cada equipe de raspação e capinação gera uma despesa mensal de cerca de R$ 90 mil.
O montante está incluído no escopo dos serviços de coleta de resíduos e de limpeza pública no contrato firmado com a empresa Terracom.
O trabalho é supervisionado pela Secretaria de Serviços Públicos.
Aliás, a empresa é a maior credora da Municipalidade.
Conforme o Portal de Transparência, a Prefeitura deve R$ 114,2 milhões do Município. (dados de 7/12).
Abandono
“A Cidade está abandonada”, reclama a dona de casa Regina Medeiros, que precisa se desviar das folhas e galhos jogados há semanas nas calçadas entre as avenidas Afonso Pena e Joaquim Montenegro (Canal 6) para atravessar a rua.
Alguns, porém, preferem literalmente colocar a mão na massa do que simplesmente acompanhar o crescimento do mato.
Com uma faca na mão, o pintor Fabrício dos Santos, 59 anos, retirava na manhã de terça (5) o mato que crescia em frente à casa de um amigo, em frente a um ponto de ônibus na Avenida Afonso Pena.
“Se não cortar, vira bagunça”, enfatiza.
Ele reconhece que este é o tipo de serviço básico para uma prefeitura como a de Santos, com um orçamento bilionário.
“Cortar o mato é o mínimo que uma prefeitura como a de Santos deveria fazer”, critica, dizendo-se decepcionado com o início da segunda gestão do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).
O pintor também faria o mesmo em frente à sua casa, na mesma avenida.
Por sorte, o mato da ciclovia da Afonso Pena foi aparado no início da semana. “Pelo menos diminui a sensação de abandono”, destaca.
Fora deste eixo, porém, o mato cresce. E bastante.
É o caso do Recanto Evelina Alca Leite de Sant’Anna, no Embaré.
A placa em homenagem está quase tomada pelo matagal do local.
O problema já ganhou espaço, incluindo na Câmara, com críticas – ainda que brandas – até de vereadores situacionistas durante a discussão do Orçamento do Município.
Tende a piorar
Se a situação já está ruim, com calçadas tomadas pelo mato, a tendência é piorar se não houver um amplo mutirão de capinação e raspação.
“Com o verão, o mato cresce mais, pois há mais chuva e exposição de luz”, explica o biólogo e professor universitário, Fábio Giordano.
A Prefeitura alega que a proibição da capinação química (uso de herbicida) também prejudica a agilidade no trabalho realizado, pois, segundo a Administração, “além de matar o mato, impedia o crescimento de novas mudas, pois ele atuava na raiz da planta”.
Giordano esclarece que o uso de produtos do tipo mata-mato trazem mais problemas que soluções.
“São agentes desfolhantes, de uso químico e prejudiciais à saúde de humanos e animais”, enfatiza.