A tarifa de ônibus em Santos foi reajustada em 8,14%, valor acima da inflação (3,27% entre dezembro/18 a novembro/19, período usado para o cálculo). Assim, a tarifa subiu de R$ 4,30 para R$ 4,65.
A medida causou polêmica, principalmente pelo fato do Município já ter uma das tarifas mais caras do Brasil, apesar das distâncias percorridas serem menores em relação às cidades que cobram um valor semelhante.
Segundo a CET, o reajuste ocorreu por uma série de fatores, como a diminuição do fluxo de passageiros e também do alto número de isenções e descontos (meia passagem). Dessa forma, quem depende do transporte público acaba pagando pelos demais.
Mas, afinal, o serviço oferecido é justo?
Assim, a Reportagem do Boqnews utilizou os ônibus das linhas 191, 156, 193, 118, 30, 77 e 04 na última quarta-feira (15) e ouviu usuários. De forma geral, há consenso entre a maioria dos entrevistados: o valor da tarifa é elevado, porém reconhecem a melhoria dos serviços oferecidos.
No entanto, as queixas são inevitáveis, seja em relação à lotação em horários de pico ou pelas falhas do sistema de internet gratuito (wi-fi).
Boa parte dos ônibus acompanhados pela Reportagem apresenta problemas com o wi-fi e alguns não dispõem de ar-condicionado, apesar do intenso calor do verão que traz desconforto aos passageiros como na última quarta.
Problemas Pontuais
Algumas linhas, por sua vez, apresentaram outros problemas pontuais, como goteiras provenientes de drenos do ar condicionado, sujeira em pisos e bancos, equipamentos enferrujados e, como de costume, atrasos constantes nos percursos dos ônibus. Segundo, a cuidadora Adriana Silva, 45 anos, o valor cobrado não condiz com o serviço oferecido. “Gasto mais de R$ 200,00 por mês, moro na Zona Noroeste e preciso trabalhar na Ponta da Praia. Além da tarifa ser cara não é todos os ônibus que tem ar-condicionado”, reclama.
Para quem mora nos Morros a situação ainda é mais complicada. A falta de linhas de micro-ônibus é um problema, mesmo com as vans que possuem a mesma tarifa para percorrer, na maioria das vezes, um percurso curto.
O aumento da tarifa não só prejudica a população que vai ao trabalho, mas quem busca o lazer. A dona de casa Tassiana Santos, que mora no Morro Santa Maria, precisou desembolsar R$ 46,50 para curtir um dia de praia com seus quatro filhos entre passagens de ida e volta. “Isso reduz a possibilidade de frequentarmos as praias mais vezes”, lamenta.
Outro modelo de ônibus na Cidade é o Seletivo, operado pela empresa Guaiuba Transportes, cuja tarifa está fixada em R$ 5,30. Em nota, a Prefeitura de Santos informou que não há previsão de reajustes para este modal.
Reações
A Câmara de Santos enviou ofício à Companhia de Tráfego de Santos (CET) com questionamentos sobre o aumento da tarifa. O presidente da Casa, Rui de Rosis (MDB), manifestou, nas redes sociais, sua indignação com o valor da nova tarifa. “Além de não terem resolvido a situação, eles têm a coragem de anunciar mais um aumento da tarifa. R$4,65 é absurdo, principalmente se levarmos em conta que o serviço não é oferecido como deveria ser”, escreveu.
A vereadora Telma de Souza (PT) também se disse surpresa com a falta de transparência na concessão do aumento, sem debate prévio com a sociedade ou comunicação ao Poder Legislativo
Assim, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo entrou com uma ação civil para suspender o reajuste. Em nota, o órgão considerou o valor cobrado “abusivo”, uma vez que o índice é quase o dobro da inflação registrada no período. Também foi questionada a falta de participação popular na decisão e as consequências para os usuários. Por outro lado, a CET informou que só irá se manifestar sobre essas questões quando for devidamente intimada.
Valor alto
Em entrevista ao programa Entrelinhas, na Santos FM; o professor especialista em transportes e logística, Rafael Pedrosa, destacou que o valor de R$ 4,65 é elevado para uma cidade como Santos, especialmente quando comparada a São Paulo, onde a tarifa é de R$ 4,40 e os percursos são infinitamente maiores. (lá o reajuste foi de R$ 0,10).
Em razão do aumento, o Centro dos Estudantes de Santos, a União Municipal e Estadual dos Estudantes promoveram manifestação pelo Passe Livre Estudantil, na Praça Mauá. Além disso, eles prometem ampliar as discussões sobre este benefício, já presente na Capital.