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Opiniões

10 DE JANEIRO DE 2017

O último voo da Microsoft

Por: Da Redação

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O jogo Scalebound, exclusivo de Xbox One e Windows 10, foi cancelado na tarde de ontem (09 de janeiro) e causou um alvoroço na mídia. Algumas declarações foram realizadas pela produtora, a PlatinumGames e pela própria Microsoft que deixaram bem claro que não há forma da produção continuar. O game contava a história de um humano que vivia em nossa época e, de algum modo, parava num cenário místico, junto a um dragão que o acompanharia em sua jornada. O monstro seria uma inteligência artificial em separado do código do game, o que tornava-o imprevisível e poderia ter várias reações durante o decorrer da história. Quando foi anunciado na E3 (Electronic Entertainment Expo, maior feira de videogames do mundo) em 2014 causou bastante alvoroço e era altamente esperado por vários jogadores.

O que muitos estão apenas lamentando a queda deste grande lançamento, há inúmeras vertentes que não chegaram aos olhos das grandes mídias. A PlatinumGames é uma produtora de games japonesa, que lidava com diversos profissionais e jogos de sucesso como Bayonetta, Metal Gear Rising: Revengeance e o esperado Nier: Automata (exclusivo para PlayStation). Além disso, também contava com o designer de jogos Hideki Kamiya, responsável pelas séries Viewtiful Joe, Devil May Cry e Resident Evil. Com um histórico desses, Scalebound era uma das principais apostas do público de maior sucesso do Xbox One e também estava bem aclamado nas críticas gerais.

O jogo Scalebound possuía já pré-venda na loja da Xbox Live e uma capa definida para seu lançamento

O jogo Scalebound possuía já pré-venda na loja da Xbox Live e uma capa definida para seu lançamento

Em suma, não foi explicada a principal razão deste cancelamento. Quase nunca é explicado quando algo assim ocorre. Lembro-me até hoje quando comprei meu Nintendo 3DS com a promessa da produtora Capcom de fazer o jogo Megaman Legends 3. Já havia jogado os anteriores no PlayStation (o primeiro) e a sequência me parecia animadora.  Para a minha sorte, não havia comprado o 3DS apenas para aquele jogo em particular, ainda teriam outros em interesse. Mesmo assim, eu vi pessoas comprando o Xbox One com Scalebound em mente. Quando avisei um grupo de amigos deste cancelamento, um deles mandou “Alguém está a fim de comprar um Xbox One?”. Não sei se era brincadeira ou não, mas se não fosse, eu compreenderia o desapontamento.

Atualmente, uma boa gama de jogos está sendo cancelada ainda em seu desenvolvimento. Poderia citar o exemplo mais recente, de Silent Hills (para PlayStation 4), que chegou a receber uma demonstração jogável que realmente animou a todos os jogadores que conseguiram baixá-la ou Mortal Kombat X, que receberia cópias para PlayStation 3 e Xbox 360 e nunca foi sequer falado a razão de não darem as caras. Adiamentos nem se comentam, pois virou comum no mercado de jogos algum ser adiado por meses, anos ou por tempo indeterminado. The Last Guardian e Final Fantasy XV viveram neste “limbo” por 10 anos. Mas há razões mais fortes para se desapontar com o caso de Scalebound.

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A interação entre o protagonista e o dragão era uma das maiores chamarizes do jogo, que prometia uma amizade entre as duas espécies que não foi mostrada antes em qualquer outro game

Parcerias entre o mercado japonês com o público “americanizado” são comuns atualmente. Inúmeros games sobre animes (Naruto Ultimate Ninja Storm, Dragon Ball Xenoverse, Sword Art Online, apenas para citar alguns) chegam ao mercado ocidental e brasileiro. Porém, era uma primeira vez que uma companhia dos Estados Unidos se interessou em buscar no mercado japonês algo inovador e que trouxesse uma proximidade maior entre as duas culturas. A Sony e a Nintendo são naturais do Japão, não passam por problemas neste sentido. A Microsoft é banalizada naquele lado do mundo, sendo que vários relatórios da VGChartz, órgão de pesquisa de mercado, mostra claramente milhares de peças de PlayStation sendo vendidas para o japonês, enquanto Xbox não bate nas 20 peças (de todo território). Seria uma baita aproximação, o que poderia render novas parcerias e mais jogos deste gênero vindo ao Ocidente. Muitos ainda são mantidos apenas para o público nipônico.

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Scalebound, na E3 2016, revelou que também contaria com um modo multiplayer cooperativo, para que jogadores se unissem para enfrentar oponentes mais difíceis com apoio)

Fora da guerra dos consoles, da piada pronta e da promessa de um bom jogo, Scalebound conseguiu desapontar com seu cancelamento por ser algo novo e interessante à Microsoft, que apesar de contar com exclusivos bons, não possui algo tão forte quanto este jogo se mostrou. Particularmente, penso “vida que segue”, não me desfaço do videogame, não me desanimo e continuarei investindo tempo e dinheiro no Xbox One. Continua um ótimo videogame, com ótimos jogos, com lançamentos bons vindos para ele e nada mudou nesse quesito. Porém, confiança é algo que foi perdido, não apenas por mim, mas por vários jogadores pelo mundo. Imagine se a Marvel decide cancelar seu filme de Vingadores: Guerra Infinita a esta altura do campeonato, ou se o George R. R. Martin diz que Dança dos Dragões foi seu último livro escrito. Imaginem se The Walking Dead é cancelado hoje, repentinamente (para não dizer que poderia ser uma inverdade, foi exatamente isso que ocorreu com Fringe, um dos meus seriados favoritos. Num dia, repentinamente, foi cancelado e os diretores teriam alguns poucos episódios para explicar os acontecimentos para finalizar). É essa a sensação deixada. Um vazio.

Trailer de Scalebound, revelando o tom do jogo e mostrando-o pela primeira vez em 2014

Ainda que não tenham o videogame, que nem se importavam com este jogo ou que não curtam games, aconselho a rever o que pensa sobre o mercado cultural. Ele não gira apenas em torno de conteúdo, de ser promissor ou não, dos envolvidos (atores, escritores, diretores, o que for) ou do que seja. Ele gira em torno de dinheiro, de executivos que decidem se aquilo sairá ou não. Diziam que Scalebound estava praticamente pronto. A equipe se dedicou mais de quatro anos de sua vida, os vídeos apresentados foram empolgantes, estava tudo correndo de modo que o lançamento fosse um sucesso. Porém, apenas um bater de martelo retirou essa chance. Não foi a primeira vez, nem a última. Mas foi uma vez que “machucou”. Dirão que é “o mercado”, que o ramo não é tão justo, que tiveram sua chance. Mas todos sabem que uma obra de arte não fica pronta do dia para a noite. Que algo relevante e bom anda separado de algo lucrativo e financeiramente positivo. Enquanto o dinheiro ditar as regras, não será o único conteúdo que veremos um fim prévio antes de decidirmos se aquilo era bom de fato ou uma ilusão. Alguém decidiu por nós. Qualquer coincidência com a política, meios de comunicação e outras áreas é meramente ilustrativa. E tirar a opção e o poder de escolha, independente do que seja, não me parece o “melhor caminho”.

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