A medida que avançam as investigações para identificar os culpados pela invasão e depredação das sedes dos poderes, em Brasília, torna-se evidente a negligência e a omissão das autoridades de segurança que, na teoria, seriam responsáveis pela proteção do patrimônio público federal.
Da mesma forma, não há como negar que as ações criminosas tenham sido preconcebidas e planejadas de forma a culminar em ato de selvageria e baderna, como uma insana tentativa de reverter o resultado da eleição que outorgou um novo mandato ao presidente Lula.
Mais do que condenável pelo seu despropósito, que impõe punições exemplares aos baderneiros e suas lideranças, as consequências dessas ações exigirão uma profunda mudança no papel que a oposição ao novo Governo deverá cumprir durante os próximos anos.
Como primeiro resultado desse descalabro será o isolamento dos políticos e simpatizantes da direita radical, que já experimentam as críticas e a repulsa dos eleitores que não votaram em Lula,w mas respeitam e querem que sejam respeitados os princípios democráticos imprescindíveis para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
Com isso, abre-se espaço para consolidação de novas lideranças oposicionistas.
Há muito se sabe que uma democracia saudável pressupõe a existência de segmentos oposicionistas, que auxiliam com críticas construtivas e o uso do contraditório, por meio da defesa de concepções de mundo, valores e formas de fazer diferentes.
Contudo, não podemos aceitar que ataques sistemáticos às instituições, a imposição da força e a violência substituam o diálogo e o respeito às decisões das maiorias manifestadas por meio do voto livre e soberano.
Igualmente relevante será a postura a ser adotada pelos que hoje retornaram ao poder, a partir de um comportamento altivo que desconsidere revanchismos e retóricas exageradas com fins eleitorais, adotando um tom conciliador e o bom senso que o País tanto almeja e precisa.
Apesar das imperfeições do sistema vigente – e o conceito pejorativo que ainda forja a imagem do regime político brasileiro -, ainda é a democracia o principal e único instrumento de transformação de uma sociedade que busca o desenvolvimento social e a prosperidade para sua população.
Por isso, seu valor não pode ser diminuído ou desprezado por quem quer que seja.
O Brasil, mais do que nunca, necessita de um ambiente de paz e união para superar grandes desafios, especialmente para colocar em curso as ações necessárias para extinguir a pobreza extrema que ainda condena milhares de famílias.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação