Racismo no futebol revela o lado sombrio do preconceito | Boqnews
Foto: Matheus Amorim/FEC

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13 DE MAIO DE 2022

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Racismo no futebol revela o lado sombrio do preconceito

Casos de racismo crescem no futebol e trazem revolta, sobretudo contra torcedores brasileiros na Copa Libertadores

Por: Da Redação

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O esporte é o reflexo da sociedade”. Essa máxima é antiga e, mais do que nunca, traduz o atual momento quando se repetem atos racistas, sobretudo em uma das maiores paixões dos brasileiros: o futebol. Infelizmente, o racismo segue constante no meio esportivo.

Mesmo na pandemia da covid-19, as ofensas continuaram, saíram dos estádios e arenas esportivs para as redes sociais.

Desde o fim de 2021, os estádios tiveram o retorno do público, graças a vacinação em massa. Ao mesmo tempo que a alegria e a emoção voltaram a tomar conta nos jogos, o lado ruim, como a violência e o preconceito, também ganharam força.

O jornalista e presidente do Tucanafro da Região Metropolitana da Baixada Santista, Jorge Fernandes, destaca que o futebol desperta emoções, todavia pessoas com más intenções acabam usando o esporte para ofender, discriminar e brigar.

De acordo com ele, o acesso à educação e a história cultural dos negros na grade escolar são pontos preponderantes para combater o racismo no Brasil. “É na família que nasce a discriminação, afinal ninguém nasce racista”, lembra Fernandes.

Para se ter uma ideia, conforme dados do Observatório da Discriminação do Futebol, os casos de racismo na modalidade estão aumentando nos últimos anos. O Observatório faz este estudo desde 2014. Só no ano de 2019, houve uma elevação de 52% nos casos de racismo no futebol brasileiro em relação ao ano anterior.

Libertadores

Todo ano, a Copa Libertadores da América lida com casos de racismo, quase sempre da torcida e em algumas ocasiões há episódios envolvendo jogadores.

Vale lembrar que em 2005, o zagueiro argentino Desábato, que na época jogava no Quilmes, acabou sendo preso, após a partida contra o São Paulo, no Morumbi. Ele ofendeu o atacante Grafite ao longo da partida e o delegado de polícia, Osvaldo Nico Gonçalves, deu voz de prisão ao zagueiro. Outro episódio triste que ganhou repercussão mundial foi na Libertadores de 2014, quando grande parte dos torcedores do Real Garcilaso (Peru) imitaram sons de macaco toda vez que o jogador do Cruzeiro, Tinga, pegava na bola. Já nesta edição, em uma mesma semana, ocorreram diversos casos de racismo contra brasileiros, algo que revoltou o mundo do futebol.

Na partida entre Corinthians x Boca Juniors, em São Paulo, um torcedor argentino imitou gestos de macaco para a torcida do Corinthians. Ele foi identificado e preso por policiais militares. O argentino pagou fiança e foi liberado. Não bastasse isso, em sua conta em uma rede social, ele ironizou a prisão, usando emojis de macaco.

Torcedor do Boca Juniors foi preso/Foto: Divulgação

Já na partida entre Emelec x Palmeiras, no Equador; Estudiantes x Bragantino, na Argentina e Universidad Católica x Flamengo, no Chile, torcedores brasileiros que viajaram para acompanhar o clube do coração também foram alvos de ofensas racistas. Na partida entre River Plate x Fortaleza, em Buenos Aires, um torcedor argentino jogou uma banana em direção aos brasileiros. O vídeo do momento exato em que o indivíduo arremessou a fruta viralizou nas redes sociais e a cumplicidade dos outros torcedores do River Plate também revoltou os brasileiros. No jogo de volta na capital cearense, a torcida do Fortaleza deu uma bela resposta, com um mosaico que levava a mensagem em inglês “Stop Racism” (Pare com Racismo).

Diante dos últimos acontecimentos, a Conmebol resolveu endurecer as regras em seu código disciplinar. Assim, a multa mínima passou de U$ 30 mil (cerca de R$ 150 mil) para U$ 100 mil (cerca de R$ 500 mil). Além disso, os clubes agora podem ser punidos, jogando com portões fechados.

Brasil

Os casos de racismo no futebol não ficam restritos apenas as competições sul-americanas. Lamentavelmente, os torneios nacionais também lidam com casos constantes de discriminação.Na última semana, o jogador do Goiás, Felipe Bastos, relatou que foi chamado de macaco por um torcedor do Atlético/GO.

Em fevereiro último, o atacante do Flamengo, Gabigol, foi alvo da mesma ofensa por um torcedor do Fluminense. Importante frisar que diferentemente da Conmebol, no futebol brasileiro já houve punições severas para os clubes dentro de campo.

No ano passado, o Brusque perdeu três pontos no Brasileirão Série B, após um conselheiro do clube cometer ato de injúria racial contra o jogador Celsinho, do Londrina.

Em 2014, o Grêmio foi eliminado da Copa do Brasil. A equipe gaúcha perdeu para o Santos no primeiro jogo das oitavas de final por 2 x 0. Entretanto, o resultado não foi a maior derrota. No segundo tempo, o goleiro

Aranha foi alvo de racismo por alguns torcedores. Por essa razão, o STJD determinou a eliminação do clube. Para piorar a situação, grande partida da torcida vaiou o goleiro Aranha, quando o atleta voltou à Arena em outra partida.

Torcedora do Grêmio foi flagrada ofendendo Aranha/Foto: Reprodução

Justiça

Para o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) e da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária (ADPJ), Gustavo Mesquita Galvão Bueno, é preciso que as leis sejam mais claras e mais rigorosas.

“As leis precisam possibilitar que o delegado aplique as normas e traga uma sanção penal adequada severa e suficiente para que casos como estes não aconteçam mais”, destacou.

Segundo ele, a falta de alteração na lei causa insegurança jurídica e permite que casos de injúria racial sigam impunes, como aconteceu com o torcedor do Boca Juniors. “Infelizmente, o argentino já se encontra livre, em casa, e o que é pior: zombando da Justiça brasileira e praticando mais atos de racismo. Nossa lei é extremamente branda e precisa ser urgentemente revista”.

O advogado Fábio Fonseca também destaca que o problema está na aplicabilidade das leis e das penas.

“Os negros e pardos fazem parte de um percentual significativo de nossa população, que são diuturnamente vítimas de injúria racial e racismo. Contudo são pouco os casos que de fato resultaram em uma condenação criminal do agressor ou de uma condenação a título de dano moral na espera cível, quando muito em sentença com valores extremamente baixos, incapazes de promover os impactos sociais necessários para desestimular as práticas criminosas debatidas”, concluiu o advogado.

Confederações

O advogado Lucas Braga lembra que as instituições como a CBF e Conmebol têm regras duras de atuação contra o racismo, entretanto em termos essas competências se limitam apenas ao futebol.

Braga cita o exemplo da Inglaterra para enfrentar o racismo no futebol. “Na Inglaterra, houve uma cooperação mútua das instituições que organizam o futebol, das televisões, por meio das imagens dos infratores e dos clubes que trabalham com a mensagem contra o racismo e a discriminação”, finalizou.

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