Entre os anos de 1968 e 1983, Santos perdeu o direito de escolher democraticamente, por meio do voto, os seus próprios governantes e passou a contar com autoridades que eram nomeadas pelos generais atuantes durante o período da ditadura militar.
A autonomia política foi recuperada em 2 de agosto de 1983, por meio de um decreto do presidente interino Aureliano Chaves, que estabelecia que a autonomia seria restaurada com a posse de um prefeito eleito pelo povo, fato que ocorreu em junho do ano seguinte, com a escolha de Oswaldo Justo, empossado no dia 9 de julho de 1984.
Com o objetivo de contar a jornada percorrida durante esse período até a conquista da autonomia, a exposição Autonomia de Santos-25 anos, inaugurada na última quinta (9), na Casa de Frontaria Azulejada, busca resgatar as memórias em episódios marcantes dessa fase da história santista.
Montada com imagens que foram publicadas nos jornais, a mostra é baseada no livro Sombras Sobre Santos, dos jornalistas Mauri Alexandrino e Ricardo Marques, e é, também, uma homenagem aos jornalistas que participaram e colaboraram na luta para a conquista da autonomia de Santos. São 57 painéis que reproduzem imagens em preto e branco e contam os episódios que marcaram essa trajetória.
História
A crise política estourava em Santos no início da década de 60. As greves e posições do município chocavam-se com as intenções do Governo do Estado e a Cidade fora atingida pelos golpistas de maneira intensa, especialmente a partir de 1964, com a implantação do regime militar no País.
Prisões em massa, o desmonte dos sindicatos e a substituição do prefeito por militares foram algumas ações que ocorreram no segundo golpe, no final de 1968. Na ocasião, o prefeito eleito, Esmeraldo Tarquínio, foi cassado e o seu vice, Oswaldo Justo, renunciou em solidariedade. Os militares aumentaram o controle político e social e transformaram Santos, que passou a ter prefeitos nomeados, em área de segurança nacional. Era o início de uma longa jornada que reivindicaria a conquista da autonomia política na Cidade.
Os jornalistas e os meios de comunicação que faziam papel de oposição ao governo da ditadura tiveram uma função fundamental nessa luta e na conscientização da população sobre a importância da democaria. “ O papel da mídia foi fundamental”, lembra o jornalista Helder Marques, que na época trabalhava no jornal Cidade de Santos.
“Lembro de ter feito várias matérias sobre a autonomia. Esse era um assunto de periodicidade quase que diária. Qualquer novidade sobre o assunto, mesmo que mínima, era colocada como pauta do jornal”, comenta .
Apesar das restrições que as matérias eram publicadas, com o cuidado de não haver crítica intensa à ditadura militar temendo a censura, os jornais cumpriam o papel de mostrar à sociedade os reflexos de um governo imposto pelos militares. “Como jornalistas, dávamos voz aos políticos cassados, empresários e outras pessoas da sociedade que, de alguma maneira, sofriam os reflexos da ditadura militar”, diz.
Marques reforça que a mobilização da sociedade, agregada à pressão midiática, foi fundamental. “A manifestação popular foi muito importante para que chegássemos à autonomia”, afirma.
Na década de 70, a luta por anistias e liberdades democráticas ganhou ainda mais atenção na cidade de Santos. Alguns episódios, como as greves no ABC e no porto, deram margem às consequências mais severas por parte da ditadura: ações de grupos paramilitares de estado e de espiões.
Conquista
A autonomia de Santos passou a ser uma reivindicação após a morte do ex-prefeito da Cidade, Esmeraldo Tarquínio, que faleceu por conta de um AVC, em 1982. Manifestações e caravanas em Brasília e em espaços públicos levaram à reconquista da autonomia e deram vazão à primeira eleição da Cidade ocorrrida em 3 de junho de 1984.
Doze candidatos participaram do pleito na ocasião. Apenas quatro estão vivos. “Foi uma luta extraordinária”, relembra e vereadora Telma de Souza, que na época participava da sua primeira eleição política. “Eu estava começando a minha jornada e fazer parte de um momento histórico como esse marcou para sempre a minha vida política”, diz.
A vereadora comenta que a conquista da autonomia, agregada à experiência de concorrer na primeira eleição após a ditadura , renderam-lhe aprendizado político. “Santos foi uma cidade que não se curvou e tem que se orgulhar pelo seu espírito de luta”, finaliza.
Serviço
A exposição Autonomia de Santos – 25 anos permanecerá aberta à visitação diária até o dia 2 de agosto, das 11 às 17 horas. A mostra está na Casa de Frontaria Azulejada, à Rua do Comércio, no Centro.