Acostumada a retratar a pureza infantil na região, a fotógrafa santista Sibylla Ventura decidiu inovar para homenagear o Abril Azul, mês de conscientização sobre o autismo.
A família do pequeno Davi, de oito anos, portador do Transtorno Espectro Autista (TEA), foi selecionada para um ensaio fotográfico documental, uma experiência onde se registra o cotidiano da família sem interferir no ambiente ou nas cenas.
“Tem sido um desafio para mim. Eu sou perfeccionista, mas nesse estilo, eu não posso alterar nem um fio que esteja aparecendo na imagem”, confessa Sibylla Ventura.
Foram dois dias de intenso envolvimento para captar os momentos do dia a dia da família Gonçalves, residente em Santos, no litoral paulista.
Filho de Gláucia Santos Gonçalves, do lar, e Alexandre Gonçalves, bancário, o menino Davi se encaixa no estágio moderado do TEA.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno atinge uma em cada 60 crianças.
“Aos dois anos, começamos a perceber diferenças entre ele e a Victória, nossa primeira filha. Ele ainda não falava, não respondia aos nossos chamados e isso começou a nos preocupar. Refizemos o teste de audição, porém não apresentou nenhum problema. Matriculamos na escola, pois talvez o contato com outras crianças influenciasse a fala. Após seis meses, sem resultados também. Fomos encaminhados para um médico neurologista, que constatou o TEA. Ficamos desesperados. Não sabíamos sobre e o que seria daqui a alguns anos”, revela a mãe sobre a descoberta.
Em 2012, foram orientados para iniciar a terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada).
Proposta
O objetivo era ensinar Davi a associar imagens com palavras para facilitar a comunicação.
Até que, durante um almoço em família, a criança disse sua primeira palavra.
Todos se emocionaram, pois estavam surgindo efeitos do tratamento.
Ele estava desenvolvendo a linguagem, aspecto importante para o convívio em sociedade.
“Nós o criamos para conquistar a independência, assim como criamos a Victória. Podemos dizer que o resultado é 20% de tratamento e 80% é a família. Nunca vamos tirá-lo a força do mundo dele, mas sim procuramos entender. Conversamos com ele e tiramos aos poucos” completa o pai sobre a importância da família.
Já em 2014, deram início a segunda etapa do processo que continua até a atualidade. Serve para a inclusão social e desenvolvimento de habilidades.
Segundo Sibylla, uma das principais paixões de Davi é a arte.
Durante o caminho da escola para a casa, eles conversaram sobre artistas como Tarsila do Amaral e Leonardo da Vinci, o que emocionou a fotógrafa.
“O ensaio do Davi foi desafiador e diferente do que eu estudei e imaginava sobre o TEA. Nós temos muito o que aprender com eles. Espero que o ensaio documental seja capaz de mostrar para outras pessoas que autistas podem levar uma vida normal (dentro de suas limitações) e como a fotografia pode ser inclusiva.”, conclui a profissional sobre a experiência.
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