Brasil precisa recuperar capacidade de convocar pessoas para vacinação | Boqnews
Foto: Arquivo

Entrevista Gonzalo Vecina Neto

24 DE ABRIL DE 2023

Siga-nos no Google Notícias!

Brasil precisa recuperar capacidade de convocar pessoas para vacinação

Gonzalo Vecina Neto foi o primeiro diretor-presidente da Anvisa e ressaltou a importância de se recuperar as campanhas de vacinação

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Exemplo para o mundo, o Brasil hoje está na lista dos 10 países com menor cobertura vacinal na atualidade.

Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que as taxas de vacinação infantil no Brasil sofreram quedas contínuas, saindo de 93,1% em meados da década passada para 71,49% no ano retrasado.

E com a pandemia, a cobertura vacinal diminuiu ainda mais.

Na visão do médico sanitarista e professor universitário, Gonzalo Vecina Neto, a razão desta queda deve-se ao desinteresse do governo anterior em convocar pais para levar seus filhos à vacinação.

Resultado: doenças erradicadas no Brasil, como o sarampo, começaram a preocupar as autoridades de saúde com o surgimento de novos casos.

O mesmo raciocínio vale para  a poliomielite, meningite, rubéola e a difteria, por exemplo.

Mas, ressalve-se, o cenário já vinha decaindo já no governo Temer, com o severo corte de gastos nas áreas públicas (PEC 95, que instituiu o novo regime fiscal).

“Precisamos recuperar a capacidade de convocar as pessoas para vacinarem seus filhos”, salienta o médico.

Assim, ele lembra que um dos primeiros itens no corte de gastos da PEC foi o fim dos investimentos em publicidade governamental.

“A questão não é o negacionismo, mas a falta de convocação das pessoas”, lembra, lamentando a ausência de campanhas que mobilizavam todo o País.

Ele cita como exemplo a própria vacinação contra a Covid, onde a ampla maioria da população se vacinou.

Dados do site Vacina Já mostram que 96,57% da população paulista tomou pelo menos uma dose contra a Covid-19 e 90,5% realizou o esquema vacinal completo.

Para ele, o Brasil tem um bom sistema de atenção primária à saúde.

Resta, portanto, a mobilização a ser incentivada pelos governos.

Puericultura

Além disso, ele salienta que deve-se voltar a investir em puericultura – acompanhamento periódico visando a promoção e proteção da saúde de crianças e adolescentes de forma integral – de 0 a 19 anos.

“Temos que recuperá-la. A busca ativa é fundamenta, além de voltar a levar a vacinação para as escolas”, salienta.

Médico Gonzalo Vecina Neto falou sobre vacinas, Anvisa, Ministério da Saúde e outros temas durante o Jornal Enfoque de hoje (24). Reprodução Jornal Enfoque

Desmonte

Vecina fez sérias críticas ao desmonte do Ministério da Saúde ao longo do Governo Bolsonaro.

“Participei de reuniões desastrosas. Foram perdidos bilhões de reais”, critica a gestão da pasta, que chegou a ter quatro ministros na pasta.

Por exemplo, casos de Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga.

“Existem coisas que podemos esquecer. Outras que temos que aprender”, salientou durante participou no Jornal Enfoque desta segunda (24).

Fundador e primeiro diretor-presidente da Anvisa, Neto chegou a ser convidado para integrar a atual equipe do Ministério da Saúde e teve participação efetiva no apoio ao nome da ministra Nísia Trindade, a primeira mulher a ocupar o cargo.

“Eu não tenho dúvida que a saúde do País está em boas mãos”, salienta.

Por sua vez, atividades acadêmicas (ele leciona na Faculdade de Saúde Pública da USP e na Fundação Getúlio Vargas, ambas na Capital) o impediram de voltar para Brasília, por onde atuou ao longo de cinco anos.

“Já dei minha contribuição. Prefiro ajudar de outra forma”, salienta o médico, de 70 anos, um dos maiores especialistas do setor no Brasil, destacando que as reuniões virtuais contribuíram para evitar os cansativos deslocamentos.

Assim, com sua experiência, o médico elogia a atuação de órgãos como a Anvisa, “um órgão de Estado”, que sofreu ataques de todos os lados, especialmente durante os embates entre o ex-governador paulista João Doria e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A Anvisa deu um show de bola”, diz, referindo-se ao episódio envolvendo os dois políticos.

“Ela não faz  política, mas verifica  se as políticas públicas estão funcionando”, enfatiza.

Dessa forma, o Instituto Butantan, na Capital paulista, é referência na produção de vacinas. Foto: Divulgação

Instituto Butantan

Além disso, o médico também falou das expectativas em relação ao Instituto Butantan com o novo governo paulista.

Por sua vez, a despeito de ainda não ter uma visão clara sobre o governo Tarcísio de Freitas em São Paulo, Vecina salienta que o órgão está sendo ocupado por um profissional gabaritado, caso de Esper Kallás, que substituiu Dimas Covas.

“Dois nomes respeitados”, salienta.

Dessa forma, ele aposta no sucesso do instituto em relação à produção da vacina da dengue, cujos casos têm crescido – inclusive mortes.

Por enquanto, a alternativa é a vacina QDenga , do laboratório japonês Takeda, mas que ainda não há qualquer sinalização de compra pelo Governo Federal para ser disponibilizado pelo SUS.

Por sua vez, lembra que em razão da pandemia, os esforços foram direcionados para a Covid-19, com a interrupção de pesquisas de duas vacinas, em especial, da tosse comprida e hepatite B, que ele espera sejam retomadas.

Cannabis

Durante o programa, Gonzalo também falou da importância do Brasil ter uma lei federal que permita a produção de medicamentos no País a base de cannabis, que tem melhorado a qualidade de vida de milhares de pessoas.

Dessa forma, as associações que atuam no tratamento de pessoas com doenças que usam a planta como alternativa só conseguem fazê-lo por meio de liminares.

“Precisamos criar leis que garantam a produção e uso da cannabis e acabar esta bobagem de que o uso delas é para drogas”, salienta.

Em São Paulo, já há lei estadual que permite o fornecimento de medicamentos à base da cannabis para fins de tratamento, com entrega gratuita.

Assim, até o próximo dia 15, a medida ganhará regulamentação, conforme crê o autor da proposta, deputado estadual Caio França (PSB).

Além disso, ele falou sobre a vacina da HPV, Programa Mais Médicos e temas correlatos.

Confira o programa completo

 

 

 

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.