O relato de uma jovem nas redes sociais sobre a relação de anticoncepcionais e a trombose reacendeu a discussão sobre o uso de pílulas contraceptivas. Em uma postagem na sua página pessoal do Facebook, Juliana Bardella, de 22 anos, conta que tudo começou com uma constante e crescente dor de cabeça. Após ir a uma consulta médica, foram receitados alguns remédios para enxaqueca. Dois dias depois, Juliana não conseguiu mover uma das pernas e teve que ir ao hospital com urgência, quando foi diagnosticada a trombose venosa cerebral.
O caso de Juliana não é único. Conforme o uso de medicamentos contraceptivos, muitas mulheres já foram diagnosticadas com trombose, que pode levar à morte.
O uso de algumas pílulas anticoncepcionais pode acarretar no surgimento da trombose
Segundo a médica especialista em ginecologia e obstetrícia, Mariana Paiva de Castro, os anticoncepcionais combinados (que tem estrogênio e progesterona na composição) podem aumentar em até quatro vezes o risco de uma paciente ter trombose. “Algumas pílulas são mais trombogênicas que outras, porém todas as pílulas com estrogênio tem esta chance. O risco varia o tipo de estrogênio e progestágenos associado, a dose de hormônio e o tempo de uso. Existem critérios para a escolha de um método para uma paciente, onde são avaliadas as contraindicações, por isso sempre aconselho que isto seja feito por especialista”, explica a médica do Instituto da Mulher e também do Hospital Guilherme Álvaro.
O risco de uma mulher que não usa este tipo de medicamento ter trombose na população geral é cinco em cada 10 mil. Quando associado o uso de estrogênio este número passa para 20 casos. Por conta dos hormônios da gestação, de cada 10 mil mulheres, 300 podem ter trombose, de acordo com a médica.
O que é?
Com base nas explicações da ginecologista Mariana Paiva, que também leciona no Centro Universitário Lusíada (Unilus), trombose é quando ocorre um entupimento das veias por um coágulo de sangue. “Se ocorrer no cérebro, pode se manifestar como um AVC (Acidente Vascular Cerebral); no coração, um enfarto; na perna (o mais comum) chamamos de trombose venosa profunda”, esclarece.
Existem alguns fatores de risco para ocorrência de trombose, como, por exemplo ficar muito tempo com a perna parada na mesma posição (ao dirigir ou andar de avião), o uso de cigarro (aumenta mais de 10 vezes), obesidade, idade acima de 60 anos, insuficiência cardíaca, uso de alguns medicamentos, gravidez, entre outras. De acordo com a médica, no caso de pessoas que têm alterações genéticas hereditárias a chance de ter o problema é muito alta.
O tratamento da trombose venosa profunda consiste em evitar a formação de novos coágulos e impedir que o mesmo se desprenda e comprometa outro órgão, além de promover a reabsorção pelo organismo dos que já se formaram. “Para isso são utilizados alguns potentes anticoagulantes”, explica Mariana. Em casos mais graves, com trombose extensa, de acordo com a médica especializada, às vezes, é preciso de cirurgia ou a infusão de medicamentos fibrinolíticos, que são capazes de dissolver o coágulo.