Abandono do Centro Histórico de Santos prejudica comerciantes locais | Boqnews
Foto: Nando Santos

Alegra Centro

01 DE ABRIL DE 2019

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Abandono do Centro Histórico de Santos prejudica comerciantes locais

Projeto criado para promover a recuperação do Centro não consegue atingir os objetivos preconizados à época

Por: Da Redação

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Os moradores que caminham pelo Centro Histórico de Santos e não conhecem sua história não imaginam que ali já habitaram inúmeras pessoas importantes para a vida da Cidade.

Afinal, as cenas da deterioração do imóveis antigos se tornaram costumeiras aos munícipes que frequentam o local cotidianamente.

E até mesmo para turistas.

Outra imagem comum são placas de “aluga-se e vende-se”.

Pensando em maneiras atrair as pessoas para o Centro, a Prefeitura de Santos criou o Alegra Centro em 2003.

O projeto tem como base promover a recuperação do patrimônio arquitetônico santista e proporcionar a melhoria da paisagem urbana.

“A Secretaria de Desenvolvimento Urbano vem trabalhando em projetos vinculados à manutenção e incremento ao comércio na região central”, explica a Prefeitura, sem entrar em detalhes.

A Administração informa que foi criado no ano passado um Grupo Técnico de Trabalho voltado ao Desenvolvimento Urbano, Turístico e de Preservação do Patrimônio da Macroárea Centro de Santos, a qual demonstrará diretrizes para elaboração de projetos específicos dessas áreas.

Tentando arrumar

A Prefeitura, por meio de nota, ressalta que foram realizadas reuniões e oficinas de capacitação com os setores diretamente envolvidos para coletar informações e sugestões que visam o aprimoramento da Lei Complementar 470/2003 – Alegra Centro -, e o atendimento dos objetivos do projeto, que “inclui a recuperação da paisagem urbana, a renovação urbana nos bairros Valongo e Paquetá”.

A Prefeitura acrescenta que o objetivo é atrair novas habitações e melhorias nas condições dos cortiços.

Por fim, em relação ao comércio, a Administração relata que hoje estão cadastrados 592 comércios varejistas no Centro.

Contudo, deste montante, 447 estão autorizados a trabalhar e os demais 145 encontram-se com processos “em andamento”.

Procurada para saber quantos imóveis foram restaurados nos últimos anos, a Prefeitura, por meio Secretaria de Infraestrutura e Edificações (Siedi) e o CONDEPASA, ligado à Secretaria de Cultura (Secult), não informaram a quantidade de imóveis particulares restaurados no Centro Histórico.

 

Abandono do Centro Histórico afasta munícipes e turistas, prejudicando o comércio. Foto: Nando Santos/Boqnews

 

Preocupação

A atual situação de vários imóveis não é a única preocupação do presidente da Comissão Especiais de Vereadores do Alegra Centro, Geonísio Pereira, o Boquinha (PSDB), ele mesmo proprietário de um estabelecimento comercial no Centro.

O edil enumera alguns fatores que contribuem para o esvaziamento do Centro: os moradores de rua, usuários de drogas e a o medo de ir ao bairro à noite.

“Estamos conversando com a Secretaria de Turismo para que o bonde volte a parar na Praça Mauá. Além de conversas com a Polícia Militar e também com a Secretaria de Desenvolvimento Social”, ressalta.

Outro problema crônico do bairro é a migração de varejistas para outros locais, como, por exemplo, os bairros da Aparecida, Ponta da Praia e do Gonzaga.

Na visão do vereador, essa saída dos comerciantes e empresários se acentuou há três anos e são necessária ações culturais para engajar a população a voltar a consumir no bairro.

No entanto, Boquinha salienta ainda que as rígidas leis do Alegra Centro também dificultam restaurações nos seculares casarões.

Segundo ele, os proprietários que alugam os imóveis são “obrigados” a reconstruir um edifício antigo do mesmo modo que se encontrava séculos atrás. Ou seja, deixando a restauração mais cara.

“Após o incêndio na Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, que matou 242 pessoas, o Executivo publicou um decreto que praticamente inviabilizou os comércios de funcionarem”, relembra.

O último fator que ele considera que atrapalha o desenvolvimento é geminação dos prédios.

De acordo com ele, as casa noturnas/comércios ficam impossibilitados de colocar uma saída de fuga devido ao modo que as edificações foram construídas.

Boquinha informa ainda que haverá uma Audiência Pública no dia 18/04, uma quinta-feria, às 15h, devido ao pedido do Executivo para que haja mudanças na lei do Alegra Centro.

 

Hoje, ao passar no Centro da Cidade, virou rotina visualizar placas de aluga-se ou vende-se. Foto: Nando Santos/Boqnews

 

Medidas

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Santos (CDL) Camilo Rey, classifica como principal erro a evasão de habitantes para outros bairros.

Ele acredita que se o Centro retornar com habitações haverá mais vida no local, principalmente à noite.

Rey informa que já está tramitando na Câmara projeto que dará ao comprador de imóveis no bairro central isenção do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).

“Ainda haverá incentivos às construtoras em construir habitações de baixo custo, com simplificação na Arquitetura e também com vendas isentas de ITBI”.

A proposta também prevê isenção do IPTU e ISS para lojistas, informa o dirigente.

 

Comércio em xeque

A forte crise econômica, somada a não ida de munícipes ao bairro central da Cidade, traz inúmeros problemas aos comerciantes locais.

Um dos retratos dessa profunda crise é o varejista Salvador Mulero, de 80 anos. Fundador da loja Sapataria Internacional, localizada na Praça Mauá, há 65 anos, o lojista critica as saídas dos monumentos da região.

Segundo ele, a retirada do bonde da Praça Mauá para o Valongo foi um dos fatores que contribuíram para o problema.

“Não adianta falar com o prefeito, ou secretário. Hoje o Centro está acabado”, relata.

Mulero ressalta que ao passar dos anos o fluxo de clientes foi diminuindo.

E que há dois anos vêm conversando com secretários para que resolva os problemas no Centro.

No entanto, nada foi feito para que o comércio se fortaleça.

Ao sair do local, a Reportagem ainda presenciou um dos funcionários explicando a um jovem os motivos pelos quais não estariam contratando neste período.

Do lado vizinho

Vizinha A Musical, instalada no Centro desde 1937, apostou em inovações para ganhar clientes.

A reforma no estabelecimento, feita há dois anos fez com que as vendas alavancassem neste curto período de tempo, como garante a proprietária Márcia Pedroso, 40 anos.

Entretanto, Márcia alega que antes de reformarem existia apenas uma opção para a loja: o fechamento.

Assim, de acordo com ela, o estabelecimento ainda está engatinhando nestas novidades.

Porque muitos compradores acreditam que o lugar não existe mais.

“Hoje nós estamos nadando sozinhos no Centro. As demais lojas estão fechando às 18h, mas isso não é hora para fechar”, garante.

Um dos motivos para que haja maior engajamento de fregueses foi a abertura de um café, ao som de músicas em um ampla TV.

Além da venda de cervejas artesanais e shows ao vivo no projeto A Musical Cultural, além do carro-chefe: vendas de instrumentos, discos e CD’s.

Na última quinta-feira (28), a cantora de blues e jazz, Carla Mariani soltou a voz no local. Já passaram por lá Viviane Davoglio e Marta Froes.

 

Desde 1937 em funcionamento, o estabelecimento A Musical, no Centro Histórico, reformou a loja e hoje atrai mais clientes. Foto: Nando Santos/Boqnews

 

Até tentam

Márcia reconhece que as mudanças feitas foram fundamentais para a loja.

No entanto, ela ainda alega que o Alegra Centro nunca existiu na prática.

“Estamos sempre nas reuniões, envolvidos e nada avança. No entanto, eu vejo que a Prefeitura está tentando. O Carnabonde este ano foi perfeito”, ressalta.

De acordo com ela, o evento foi benéfico para a loja, porém as estimativas de vendas não foram alcançadas.

Questionada sobre a posição da Prefeitura a respeito do Alegra Centro, Márcia afirma que eles avisaram que levariam o bonde de volta à Praça Mauá.

Contudo, a proprietária não acha justo que haja a retirada do Valongo.

O que pode acarretar em prejuízos aos comerciantes do local.

Segundo ela, a Prefeitura não é a única responsável pela falta de engajamento no Centro.

“Os comerciantes também precisam se ajudar”.

“A gente acompanha, mas não adianta. Chega lá dentro – na Prefeitura -, mas ‘morre’, se dispersa. Não sei o que acontece”, lamenta.

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