A questão da flexibilização do comércio tem sido tratada com cuidado pelas autoridades. O risco de contaminação da doença e a elevação do desemprego seguem lado a lado.
No entanto, as visões opostas de prefeitos, governadores e do governo federal resultaram em discussões que se alastraram para a população.
Fato concreto é que o índice de isolamento social no estado tem caído, preocupando as autoridades de saúde.
Em São Paulo, epicentro do problema, o governador João Dória (PSDB) prorrogou a quarentena até o dia 10 de maio, a terceira implantada.
Na sexta (8), Doria promete anunciar quais as atividades econômicas serão retomadas de forma gradual, mas com respaldo científico.
No entanto, o governante já deixou claro que se os índices de isolamento não voltarem a subir, não descarta a prorrogação da quarentena.
Santa Catarina vive uma situação completamente diferente. O governador do estado, Carlos Moisés (PSL), reabriu o comércio, inclusive shoppings centers com restrições.
Logo no primeiro dia, um vídeo gravado no shopping em Blumenau repercutiu nas redes sociais, em razão da grande quantidade de pessoas e a recepção dos funcionários foram os pontos mais comentados pelos usuários.
Coincidentemente, os casos de coronavírus dispararam na Cidade após esse episódio.
O Governo Federal tem um pensamento semelhante ao governador de Santa Catarina.
O presidente Jair Bolsonaro tem destacado que o combate ao coronavírus deve ser realizado em conjunto com a manutenção dos empregos. Ele defende a abertura plena do comércio.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assegurou aos governos estaduais e municipais a autonomia para tomar as decisões referentes à pandemia.
Leitos de UTI
Na região, o fato mais preocupante é a falta de leitos de UTIs.
Com algumas cidades flexibilizando abertura do comércio, como São Vicente, Guarujá e Cubatão, o setor de saúde local acendeu o sinal amarelo.
Até quarta (29), Santos tinha 63 moradores de outros municípios nos leitos de UTI para pacientes Covid-19 (51,7% do total), contra 59 de santistas (48,3%).
Incluindo os leitos de clínica médica, ao todo, existiam 286 pessoas internadas em leitos Covid-19 na rede hospitalar de Santos, entre casos suspeitos e confirmados, sendo 146 deles de moradores de Santos (51%) e 140 de outras cidades (49%).
Os prefeitos da região pediram mais respiradores hospitalares para o estado.
São cerca de 140 do total de lote de 3 mil que o Governo paulista adquiriu da China.
Baixada Santista
A flexibilização da reabertura do comércio com medidas restritivas já é uma realidade na região.
A primeira cidade da Baixada Santista a liberar os serviços não essenciais foi Cubatão no dia 15 de abril. Na mesma data, o município contava com um dos piores índices de Isolamento social do Estado de São Paulo, de acordo com o Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP), com 40%.
São Vicente e Guarujá também flexibilizaram as regras, com algumas restrições. No entanto, o que se vê é aglomeração de pessoas nos centros comerciais.
Só a partir desta sexta (1) é que passou a ser obrigatório o uso de máscaras.
Em Guarujá, as barbearias também tiveram a permissão de funcionamento. No entanto, só com hora marcada.
A barbearia Brother´s BarberShop segue as orientações de higienização da Prefeitura, de acordo com Leandro César e Fernando Henrique, donos do estabelecimento.
Os cuidados necessários estão sendo devidamente tomados, como distância, limpeza dos equipamentos e o uso de máscaras.
Em Praia Grande, alguns serviços, como bicicletarias, lojas de materiais de construção e óticas também já estão em funcionamento.
No Litoral Plaza Shopping, apenas os setores essenciais estão em funcionamento, enquanto os outros realizam atendimento por delivery, como lojas de perfumaria e de brinquedos.
Santos
Por sua vez, Santos seguiu a decisão do governo estadual em prorrogar a quarentena até o dia 10 de maio. Estabelecimentos comerciais, em especial do setor alimentício, por exemplo, só podem trabalhar pelo sistema de delivery ou entrega no estabelecimento, sem aglomeração.
A cidade já registra 51 mortes – e outras 15 em investigação (até quarta, dia 29).
A medida não agrada os empresários. Carreatas e protestos pedindo a reabertura do comércio tem sido recorrentes.
Manifestações ocorreram até em frente ao Paço Municipal e na casa do prefeito.
Apesar do decreto municipal, muitas lojas de serviços não essenciais estão com portas abertas funcionando de maneira ilegal em bairros mais populares.
Sindicato e Prejuízos
O Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista (SincomércioBS) é favorável à flexibilização do comércio nas nove cidades da região.
Em nota, o presidente do sindicato, Omar Abdul Assaf, se mostra favorável. “Estamos lutando para que esses comércios tenham a oportunidade de oferecer seus produtos, seus serviços, de maneira segura. De jeito nenhum apoiaríamos qualquer ação contra o bem-estar dos moradores e das comunidades da nossa região”.
As consequências econômicas causadas pela pandemia da Covid-19 são graves, pois muitas pessoas na região já perderam o emprego e alguns estabelecimentos podem fechar nos próximos meses, caso a situação piore, informa a nota.
Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a estimativa para o mês de maio é um prejuízo de R$ 19,3 bilhões.
Dentre os segmentos mais afetados, estão as lojas de móveis e decoração (-92%); eletrodomésticos, eletrônicos e lojas de departamento (-82%) e lojas de vestuário e calçados (-72%).