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07 DE OUTUBRO DE 2011

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Por meio das redes sociais, movimentos populares ganham adesões e impulso

Lá se vão 19 anos desde que o movimento dos caras-pintadas reuniu milhares de jovens nas principais cidades brasileiras, exigindo o Impeachment de Fernando Collor de Melo, então presidente do Brasil e acusado de corrupção. Foi a última vez que o País presenciou uma grande mobilização popular — algo de certa forma comum anos antes, […]

Por: Da Redação

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Lá se vão 19 anos desde que o movimento dos caras-pintadas reuniu milhares de jovens nas principais cidades brasileiras, exigindo o Impeachment de Fernando Collor de Melo, então presidente do Brasil e acusado de corrupção. Foi a última vez que o País presenciou uma grande mobilização popular — algo de certa forma comum anos antes, não só nas Diretas Já, que pressionavam pelo retorno ao voto direto à presidência, mas pelas diversas manifestações que permearam os anos da Ditadura Militar e levaram estudantes e militantes à prisão e até mesmo à morte.


Quase duas décadas depois, a sociedade parece começar a se levantar. No feriado de 7 de setembro, vários brasileiros levaram às ruas cartazes de protesto na Marcha Contra a Corrupção, criticando escândalos como a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) após ela ter sido flagrada recebendo dinheiro de Durval Barbosa, delator do mensalão do DEM, em 2006 e exigindo o fim do voto secreto dos parlamentares. Só em Brasília (DF), foram mais de 25 mil manifestantes. O fenômeno se estendeu para São Paulo, Porto Alegre e Belém, chegando também a Santos, onde cerca de 90 pessoas deixaram suas casas no feriado prolongado para protestar.








Em Brasília, mais de 25 mil manifestantes protestaram contra a corrupção. Foto: Agência Brasil

Em Brasília, mais de 25 mil manifestantes protestaram contra a corrupção. Foto: Agência Brasil


Se ainda é cedo para dizer que a indignação do brasileiro com o cotidiano está “deixando o sofá”, os sinais indicam que a paciência da parcela da sociedade que não concorda com o que vem ocorrendo no País está abalada. Ou, como descreveu o jornalista e consultor político Gaudêncio Torquato em artigo recente, “mostram que o Brasil está longe de ser um gigante adormecido em berço esplêndido”. E se no passado as discussões estavam nos diretórios acadêmicos das faculdades ou em centros estudantís, hoje o ambiente para propagação de manifestações e encontros é a internet. No País, já são quase 50 milhões de usuários deste meio, qualificado por Torquato como “um poderoso núcleo irradiador de informações e visões”, que oxigenam “o coração da opinião pública”.


Por meio de blogs e, principalmente, redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter, tem sido possível a pessoas (a maioria jovens) divulgar ou tomar parte de diferentes protestos. O próximo, inclusive, foi marcado, via Facebook, para o feriado desta quarta-feira (12). Trata-se do movimento Dia do Basta – Pela Educação e Contra a Corrupção, que será realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, e em outras cidades do Brasil, das 14 às 18 horas. Ainda não foi confirmado se haverá passeata semelhante em Santos.


Saindo de casa


Foi a partir de um convite que uma amiga recebeu no Facebook que a jornalista Verônica Medrona ficou sabendo sobre a “etapa santista” da Marcha Contra a Corrupção. “Ela me contou que haveria a manifestação na Praça Independência, e acabei decidindo participar. Além da gente, entre outras tantas pessoas, ainda estava mais outras duas que souberam do protesto pelo Facebook dela e um outro casal, já na faixa dos 50 anos, que também teve conhecimento do ato pela rede social”, recorda a jornalista. “E vou participar de tantas outras manifestações que tiverem. É importante termos a consciência de que sim, é possível sermos agentes transformadores da sociedade”, destaca.








Praça Independência foi o palco santista das manifestações contra a corrupção

Praça Independência foi o palco santista das manifestações contra a corrupção. Foto: Arquivo Pessoal


Também por meio das redes sociais o professor de inglês Kenny Mendes conseguiu promover dois manifestos, estes de cunho mais específico. O primeiro deles, em maio, foi o chamado Na Mesma Moeda, contra o que se qualificou como “preço abusivo” da gasolina na Cidade. Segundo o professor, o movimento teve início em Goiás e chamou atenção por um vídeo publicado no YouTube, com imagens da manifestação. “Levei o assunto para sala de aula, e vi que muitos alunos também tinham reclamações. A ideia era reunir os alunos, mas outras pessoas, que ficaram sabendo do protesto pelo Facebook, acabaram aderindo. Levamos 172 pessoas para as ruas, em vários automóveis, buzinando perto dos postos em que a gasolina era mais cara”, lembra.


Outro manifesto se deu em 8 de setembro e questionava a especulação imobiliária na Baixada Santista. A divulgação, mais uma vez, deu-se por intermédio das redes sociais, em comunidades do Orkut (como a da cidade de Santos, composta por quase 47 mil pessoas) e em convites para eventos no Facebook. A presença foi menor que na passeata anterior (cerca de 50 pessoas), mas para Mendes, o evento valeu a pena. “Fizemos bastante barulho na Praça das Bandeiras. A ideia era que de alguma forma o debate sobre o tema fosse incentivado”, analisa.








Protesto contra especulação imobiliária na região ocorreu na Praça das Bandeiras. Foto: Arquivo Pessoal

Protesto contra especulação imobiliária na região ocorreu na Praça das Bandeiras. Foto: Arquivo Pessoal


Como se vê, as participações em Santos foram relativamente tímidas — especialmente por esta um dia já ter sido apelidada de “Cidade Vermelha”, pela presença marcante de movimentos populares e sindicais em décadas anteriores. Não que não exista interesse em certas causas. O desafio, porém, é o de levar esse interesse às ruas. “Nos eventos que organizamos, vieram 5% a 10% dos que falaram que iriam comparecer. Santos é uma cidade em que todos se conhecem, então parece não se querer tomar uma atitude que deixe o fulano chateado, porque o pai é amigo deste fulano”, reflete Mendes. “Eu amo minha cidade, mas a questão é: a maioria (das pessoas) está em uma zona de conforto. A região tem muitos pensadores, mas infelizmente o conhecimento se partidarizou”, pontua Verônica.


Ponderações


Para o professor universitário Wellington Teixeira Lisboa, Mestre em Comunicação em Jornalismo pela Universidade de Coimbra (Portugal) e doutorando em Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, as manifestações ocorridas em Brasília e em outras cidades do Brasil, arquitetadas principalmente pelas redes sociais da internet, não têm a mesma dimensão de mobilizações como as que já decorreram no País no passado, inclusive em comparação com a dos caras-pintadas, na década de 90.


Na visão de Lisboa, os protestos são importantes para continuidade e garantia do projeto democrático brasileiro, mas se tratam de mobilizações pontuais, sem continuidade ou engajamento duradouro. “O que vejo hoje é outro tipo de mobilização, em certos aspectos muito mais frágil daquelas que se formaram e se solidificaram nas décadas passadas. Claro que há inúmeras iniciativas de relevo, em prol de pessoas portadoras de necessidades especiais, idosos e grupos étnicos, por exemplo, mas que se configuram iniciativas endossadas pelo Estado e pelas ONGs”, analisa.


Lisboa também pontua que, atualmente, o munícipe tem muito mais formas de participar do debate político, a partir do orçamento participativo, das ouvidorias, da discussão nas Câmaras municipais e da própria fiscalização do poder público. Contudo, recorda que os estudos que avaliam a consciência política dos brasileiros indicam que apesar dos meios e canais — “muitos conquistados com as pressões populares antes de 2000”, destaca o estudioso — a sociedade ainda está aquém do que se deseja, em termos  de participação e mobilização.


“Essas manifestações são valiosas, mas parece-me que poderiam ter muito mais representatividade e serem articuladas em torno de questões sociais importantes que carecem de atendimento por parte dos poderes políticos. Penso que falte a consciência cidadã e politica para que as pessoas participem da vida pública não apenas por passeatas e manifestações que reúnam, geograficamente, as pessoas envolvidas, mas no cotidiano, por inúmeros meios e canais”, reflete.


O professor, por sua vez, também destaca a internet como meio importante para questionamentos e pressão ao poder público em torno do interesse social e avalia que a grande rede pode funcionar como canal de mediação entre os cidadãos e o Estado. “Mas penso que tudo isso responde à existência de uma consciência e educação para a cidadania. Estimular o sentido de participação cidadã e política, da vida em coletividade e do interesse por questões de cunho público seria um dos caminhos para fortalecermos a nossa participação na vida publica, que hoje conta com o poder de articulação e visibilidade da internet”, conclui.


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