Olhos de ressaca | Boqnews

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21 DE JUNHO DE 2012

Olhos de ressaca

Por: admin

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Num mês em que tanto se falou em amor e namoro, declarações mil surgem nas mídias todas, fazendo-nos acreditar que todo mundo ama todo mundo, e que tudo é cor de rosa, ou um belo coração vermelho. 
Também nos deparamos com o noticiário policial que nos traz dramas de amor, assassinatos, brigas sempre motivado pelo ciúme, pelo menos é o que dizem. Na verdade esse tal ciúme além de traduzir um sentimento de posse e propriedade nem de longe tem a ver com amor, que na verdade é cuidado, mas também confiança e amplo prazer de encontro.
O ciúme, em princípio, é um sentimento tão natural ao ser humano como o tédio e a raiva. Nós sempre vivenciamos este sentimento em algum momento da vida. Diferem apenas de suas razões e das emoções que sentimos.
Como todo sentimento, tem seu lado positivo e negativo, mas sabemos que o ciúme é sempre tirano e limitador, transformando a relação em prisão. Vai muito além daquilo que se espera de uma relação, um porto seguro, mas num mar de tranquilidade e carinho.
O ciumento, geralmente, tem duas características básicas: incapacidade de ficar sozinho e baixa auto-estima. Quem não confia em seu potencial, teme ser trocado por outra pessoa o tempo todo.
Para evitar esse sentimento, que humilha e aprisiona, o ciumento se protege restringindo a liberdade do parceiro e tentando controlar suas atitudes.
A explicação psicológica do ciúme pode ser uma persistência de mecanismos psicológicos infantis, como o apego aos pais que aparece por volta do primeiro ano de vida ou como consequência de complexos não resolvidos. Na idade adulta, essas frustrações podem reaparecer sob a forma de uma possessividade em relação ao parceiro ou mesmo uma paranóia.
Só quem acredita ser uma pessoa importante, quem tem capacidade de viver bem, sem depender de uma relação amorosa para se sentir vivo não se deixa levar pelo ciúme, pois sabe que não é descartável e não será dispensado ou trocado com facilidade. E se o for, pode até sofrer no caso de uma separação, mas tem a certeza de que vai continuar vivendo sem desmoronar e com esperança de encontrar outro parceiro que o complete.
Como diz Shakespeare em Otelo, na cruel história sobre o ciúme, ele é um monstro que nasce de si mesmo e nos mostra que vai muito além do objeto amado. Não precisa de motivo. Ele aparece porque aparece.
A literatura universal sempre viu nesse tema as mais complexas redes. De certa forma, isso nos atrai e nos mobiliza: Capitu com seus olhos de ressaca e seu Bentinho; Otelo e Desdemona, e porque não Elise e Matsunaga, seus parceiros de drama. De certa forma, essas histórias alimentam algo do qual estamos tentando o tempo todo fugir, da relação em que dois se tornam um, quando o que se deve querer de uma relação é que dois se tornem três, não o terceiro que insufla o ciúme, mas o terceiro que é a relação além do eu e do tu valorizados e respeitados.

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