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15 DE MARÇO DE 2024

Petrobras, discurso e prática

Humberto Challoub

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A decisão da Petrobras de adiar a distribuição de dividendos aos seus acionistas, após obter o segundo maior lucro de sua história, produziu forte queda no valor das ações da empresa e estimulou o debate em torno da ingerência governamental na condução dos rumos da estatal petrolífera.

Não é para menos.

São muitos os exemplos negativos resultantes da influência política em segmentos empresariais, especialmente no Brasil, onde casos de clientelismo e corrupção tornaram estatais ineficientes e deficitárias, a depender do governo em exercício.

Há de se reconhecer que o modelo adotado no setor petrolífero nacional ao longo de décadas mostrou-se extremamente lucrativo.

Isso, no entanto, não é suficiente para justificar o ímpeto nacionalista e intervencionista contido no iderário do atual Governo.

A resistência ao desejo manifestado pelo presidente Lula, de que a Petrobras atue como mais um indutor do desenvolvimento econômico utilizando recursos excedentes em projetos voltados à energia limpa, se explica pelo longo histórico de episódios envolvendo desvios de finalidade e corrupção na empresa protagonizados por agentes políticos.

Da mesma forma, não há como evitar a frustração dos acionistas que aguardavam a justa remuneração de seus investimentos e agora voltam a ter incertezas e desconfiança sobre os reais propósitos contidos na decisão de adiar o repasse dos dividendos devidos.

Já se sabe também que, paradoxalmente, as riquezas a serem produzidas pela indústria petrolífera brasileira denotam uma oportunidade de caráter finita, uma vez que representam a sobrevida de uma base energética condenada por ser uma das principais responsáveis pela degeneração progressiva do planeta, por meio da emissão dos gases que ajudam a ampliar os danos provocados pelo efeito estufa.

Nesse sentido, é correto que a Petrobras reserve recursos para investimentos no atendimento das demandas sociais e ao financiamento de novas tecnologias que venham, em um futuro próximo, substituir o uso do petróleo e seus derivados.

Portanto, torna-se prudente desconsiderar as retóricas ufanistas que, invariavelmente, têm permeado os debates sobre a questão, pois em nada têm contribuído para a formação dos conceitos necessários à tomada de decisões coerentes e adequadas aos interesses da sociedade brasileira.

Espera-se assim que, desta feita, a condução dos destinos da Petrobras seja realizada de forma a evitar os graves erros cometidos no passado, com a minimização de prejuízos e a efetiva reversão dos propalados benefícios à população.

 

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação

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