Na abertura do 76ª Assembleia Mundial de Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) neste domingo (21), braço da Organização das Nações Unidas (ONU), o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus fez um apelo aos países que realizem reformas necessárias para se preparar para uma eventual nova pandemia – como ocorrida com a Covid-19.
Aliás, o fim da emergência de saúde pública foi oficializado recentemente – e não o término da doença, que permanece em circulação.
No mundo, até o momento, morreram 6.880.579 pessoas – 702.421 no Brasil (10,2% do total).
Tedros advertiu aos Estados-membros que essa é uma realidade, que pode ocorrer a qualquer momento.
O presidente do organismo internacional afirma que o mundo não pode deixar essa responsabilidade para o futuro.
Além disso, o dirigente da OMS mencionou que o evento é uma oportunidade valiosa para que líderes tracem uma via clara para esse futuro.
Além disso, se as mudanças não forem feitas de imediato, o mundo estará sob risco.
A assembleia prossegue até o dia 30 de maio.
Inevitável
Trata-se do mesmo pensamento do médico epidemiologista Fábio Mesquita, uma das maiores autoridades sobre Aids no mundo e que atuou por anos nos escritórios da OMS em vários países, especialmente na Ásia.
“Isso (novas pandemias) é praticamente inevitável”, explica o médico.
Ele participou do Jornal Enfoque desta segunda (22), onde falou sobre a atuação do órgão e os riscos de novas epidemias.
Dessa maneira, o médico justifica que o risco crescente decorre de ataques constantes do homem ao meio ambiente e sua relação com os animais.
Assim, a OMS tenta se preparar para futuras epidemias ampliando a rede de vigilância para alertar sobre novos focos de riscos.
Para tanto, há necessidade de recursos e mobilização.
Afinal, apenas 1 em cada 5 dólares arrecadados pelo órgão são provenientes da ONU.
O restante precisa ser captado junto a programas internacionais e as próprias nações.
Mesquita lembra o caso do HIV, que era considerada a epidemia mais importante nas últimas décadas até a chegada da Covid-19.
“Hoje os países percebem que um problema na saúde pode arrebentar a economia”, enfatiza.
Infodemia
Mesquita também abordou outra epidemia, esta bem mais complexa – e não tem relação com a ciência exata: as das notícias falsas – com destaque na área da saúde.
O impacto é tão significativo que a OMS o classificou como infodemia, ou seja, informação equivocada, maldosa e que precisa ser combatida.
Ele reconhece que até alguns profissionais da saúde acabam usando canais de comunicação para desinformar, o que abre espaço para teorias conspiratórias.
“A OMS tem uma preocupação enorme com a informação errada. A Medicina tem que ser baseada em evidências científicas”, salientou.
Nesta linha, está a queda do percentual de pessoas vacinadas, em especial as crianças.
Muitas teorias apontam riscos sobre as vacinas, influenciando as famílias, conforme mostra pesquisa (leia mais aqui)
Caso da vacina contra a meningite, com indicadores inferiores a 50%, colocando em risco a volta da doença – até então erradicada.
Para Mesquita, há a necessidade do Ministério da Saúde voltar a fortalecer o PNI – Programa Nacional de Imunizações, um exemplo que o País tinha para o mundo.
No entanto, ela se perdeu nos últimos governos (Temer e Bolsonaro).
“Sempre demos um show”, lembra.
Campanhas na mídia
Além disso, ele sugere o investimento maciço em campanhas sobre vacinação na mídia.
“Precisamos recuperar esta cobertura vacinal baixa”, acrescenta.
Além da meningite, outra preocupação – com larga dose de preconceito – refere-se à vacinação contra a HPV, de prevenção ao câncer de colo de útero para meninas e do pênis para os meninos.
Por preconceito, muitos pais ainda não levam seus filhos para a vacinação.
O câncer de colo de útero é o terceiro mais comum entre as mulheres.
Em 2022, a estimativa era do surgimento de 16.710 casos – média considerável de 15,38 para 100 mil/mulheres.
Além disso, durante o programa, Mesquita também falou sobre hepatites virais e da M Box – varíola dos macacos, como ficou popularmente conhecida, e a vacina contra a dengue, entre outras doenças.
HIV
Além disso, Mesquita ressaltou o atual estágio do HIV, que também sofreu impactos em termos de investimentos em razão da pandemia da Covid-19.
Afinal, em conferência mundial realizada na África do Sul no início deste século ficou estabelecido que a Aids deixaria de ser um problema de saúde pública mundial até 2030 – assim como ocorreu recentemente em relação à Covid-19.
“A pandemia impactou a economia e as empresas. Equipamentos usados para fabricação de medicamentos anti-retrovirais passaram a ser usados para a Covid-19″, enfatizou.
Assim, como reflexo, pessoas interromperam tratamentos, prejudicando a meta estabelecida para 2030.
“Infelizmente não chegaremos até lá com a situação sob controle”, discorreu.
Além disso, Mesquita alerta para o crescimento do vírus entre os jovens.
Assim, ele aponta a falta de educação sexual nas escolas e a subestimação aos riscos da Aids.
“Ela é uma doença crônica manejável, mas que a pessoa levará para a vida toda, sendo obrigado a se medicar até o final dela”, destaca.
Mesquita sugere a retomada de um programa criado no Ministério da Saúde (ele atuou na pasta entre 2015 e 2016) na ocasião, com a formação de lideranças jovens para formar e informar seu pares.
“Infelizmente, não houve continuidade”, lamenta.
Covid-19
Além disso, o médico abordou a respeito se há riscos ou não de contaminação dos corpos das pessoas falecidas pela Covid-19 que completam 3 anos – período para exumação nos cemitérios municipais da maioria das cidades da região.
Assim, algumas cidades promovem medidas de segurança e até impedem que os familiares acompanhem a exumação.
“Reconheço que é difícil criticar a medida protetiva, mas isso é um pouco de ficção”, enfatiza.
Afinal, segundo ele, não há lógica quem afirma que o vírus pode estar presente após 3 anos da morte do paciente.
“Biologicamente isso seria impossível”, esclarece.
Programa completo
Confira o programa completo com o médico Fábio Mesquita – que também foi vereador em Santos nos anos 90.
(*) Com informações do site da OMS
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