“Novas epidemias são praticamente inevitáveis”, assegura epidemiologista | Boqnews
Médico Fábio Mesquita. Foto: Carla Nascimento

Entrevista com Fábio Mesquita

22 DE MAIO DE 2023

Siga-nos no Google Notícias!

“Novas epidemias são praticamente inevitáveis”, assegura epidemiologista

Durante anos, o médico Fábio Mesquita atuou pela OMS em unidades espalhadas pelo mundo, em especial na Ásia. Ele é referência na luta contra a Aids

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Na abertura do 76ª Assembleia Mundial de Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) neste domingo (21),  braço da Organização das Nações Unidas (ONU), o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus fez um apelo aos países que realizem reformas necessárias para se preparar para uma eventual nova pandemia – como ocorrida com a Covid-19.

Aliás, o fim da emergência de saúde pública foi oficializado recentemente – e não o término da doença, que permanece em circulação.

No mundo, até o momento, morreram 6.880.579 pessoas – 702.421 no Brasil (10,2% do total).

Tedros advertiu aos Estados-membros que essa é uma realidade, que pode ocorrer a qualquer momento.

O presidente do organismo internacional afirma que o mundo não pode deixar essa responsabilidade para o futuro.

Além disso, o dirigente da OMS mencionou que o evento é uma oportunidade valiosa para que líderes tracem uma via clara para esse futuro.

Além disso,  se as mudanças não forem feitas de imediato, o mundo estará sob risco.

A assembleia prossegue até o dia 30 de maio.

O médico Fábio Mesquita participou do Jornal Enfoque, apresentado pelo jornalista Francisco La Scala Jr. Foto: Carla Nascimento

Inevitável

Trata-se do mesmo pensamento do médico epidemiologista Fábio Mesquita, uma das maiores autoridades sobre Aids no mundo e que atuou por anos nos escritórios da OMS em vários países, especialmente na Ásia.

“Isso (novas pandemias) é praticamente inevitável”, explica o médico.

Ele participou do Jornal Enfoque desta segunda (22), onde falou sobre a atuação do órgão e os riscos de novas epidemias.

Dessa maneira, o médico justifica que o risco crescente decorre de ataques constantes do homem ao meio ambiente e sua relação com os animais.

Assim, a OMS tenta se preparar para futuras epidemias ampliando a rede de vigilância para alertar sobre novos focos de riscos.

Para tanto, há necessidade de recursos e mobilização.

Afinal, apenas 1 em cada 5 dólares arrecadados pelo órgão são provenientes da ONU.

O restante precisa ser captado junto a programas internacionais e as próprias nações.

Mesquita lembra o caso do HIV, que era considerada a epidemia mais importante nas últimas décadas até a chegada da Covid-19.

“Hoje os países percebem que um problema na saúde pode arrebentar a economia”, enfatiza.

Presidente da OMS, Tedros Ghebreyesus enfatiza que o mundo precisa se preparar para enfrentar novas epidemias. Foto: Divulgação

Infodemia

Mesquita também abordou outra epidemia, esta bem mais complexa – e não tem relação com a ciência exata: as das notícias falsas – com destaque na área da saúde.

O impacto é tão significativo que a OMS o classificou como infodemia, ou seja, informação equivocada, maldosa e que precisa ser combatida.

Ele reconhece que até alguns profissionais da saúde acabam usando canais de comunicação para desinformar, o que abre espaço para teorias conspiratórias.

“A OMS tem uma preocupação enorme com a informação errada. A Medicina tem que ser baseada em evidências científicas”, salientou.

Nesta linha, está a queda do percentual de pessoas vacinadas, em especial as crianças.

Muitas teorias apontam riscos sobre as vacinas, influenciando as famílias, conforme mostra pesquisa (leia mais aqui)

Caso da vacina contra a meningite, com indicadores inferiores a 50%, colocando em risco a volta da doença – até então erradicada.

Para Mesquita, há a necessidade do Ministério da Saúde voltar a fortalecer o PNI – Programa Nacional de Imunizações, um exemplo que o País tinha para o mundo.

No entanto, ela se perdeu nos últimos governos (Temer e Bolsonaro).

“Sempre demos um show”, lembra.

 

Campanhas na mídia

Além disso, ele sugere o investimento maciço em campanhas sobre vacinação na mídia.

“Precisamos recuperar esta cobertura vacinal baixa”, acrescenta.

Além da meningite, outra preocupação – com larga dose de preconceito – refere-se à vacinação contra a HPV, de prevenção ao câncer de colo de útero para meninas e do pênis para os meninos.

Por preconceito, muitos pais ainda não levam seus filhos para a vacinação.

O câncer de colo de útero é o terceiro mais comum entre as mulheres.

Em 2022, a estimativa era do surgimento de 16.710 casos – média considerável de 15,38 para 100 mil/mulheres.

Além disso, durante o programa, Mesquita também falou sobre hepatites virais e da M Box – varíola dos macacos, como ficou popularmente conhecida, e a vacina contra a dengue, entre outras doenças.

Casos de HIV voltam a crescer, especialmente entre o público jovem. Foto: Divulgação

HIV

Além disso, Mesquita ressaltou o atual estágio do HIV, que também sofreu impactos em termos de investimentos em razão da pandemia da Covid-19.

Afinal, em conferência mundial realizada na África do Sul no início deste século ficou estabelecido que a Aids deixaria de ser um problema de saúde pública mundial até 2030 – assim como ocorreu recentemente em relação à Covid-19.

“A pandemia impactou a economia e as empresas. Equipamentos usados para fabricação de medicamentos anti-retrovirais passaram a ser usados para a Covid-19″, enfatizou.

Assim, como reflexo, pessoas interromperam tratamentos, prejudicando a meta estabelecida para 2030.

“Infelizmente não chegaremos até lá com a situação sob controle”, discorreu.

Além disso, Mesquita alerta para o crescimento do vírus entre os jovens.

Assim, ele aponta a falta de educação sexual nas escolas e a subestimação aos riscos da Aids.

“Ela é uma doença crônica manejável, mas que a pessoa levará para a vida toda, sendo obrigado a se medicar até o final dela”, destaca.

Mesquita sugere a retomada de um programa criado no Ministério da Saúde (ele atuou na pasta entre 2015 e 2016) na ocasião, com a formação de lideranças jovens para formar e informar seu pares.

“Infelizmente, não houve continuidade”, lamenta.

Covid-19

Além disso, o médico abordou a respeito se há  riscos ou não de contaminação dos corpos das pessoas falecidas pela Covid-19 que completam 3 anos – período para exumação nos cemitérios municipais da maioria das cidades da região.

Assim, algumas cidades promovem medidas de segurança e até impedem que os familiares acompanhem a exumação.

“Reconheço que é difícil criticar a medida protetiva, mas isso é um pouco de ficção”, enfatiza.

Afinal, segundo ele, não há lógica quem afirma que o vírus pode estar presente após 3 anos da morte do paciente.

“Biologicamente isso seria impossível”, esclarece.

Programa completo

Confira o programa completo com o médico Fábio Mesquita – que também foi vereador em Santos nos anos 90.

 

(*) Com informações do site da OMS

 

Leia também

#A previsão do seu signo, com Virgínia Gaia

@ Fake news sobre vacinas disseminam medo em famílias, aponta pesquisa

# Saiba como a aromaterapia ajuda as pessoas

 

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.