Santos pode ser invadida pelo mar nos próximos anos, aponta estudo da ONU | Boqnews
Foto: Nando Santos

Cidades

29 DE NOVEMBRO DE 2023

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Santos pode ser invadida pelo mar nos próximos anos, aponta estudo da ONU

Em 2050, diversas áreas da cidade de Santos podem desaparecer

Por: Da Redação

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Um estudo divulgado nesta semana pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a Climate Impact Lab trouxe um dado preocupante para algumas cidades litorâneas.

De acordo com o levantamento, o mar pode invadir diversas áreas dentro de menos de três décadas e Santos está nessa lista global.

Os efeitos já podem causar um grande impacto até 2050, com cerca de 5% da população das cidades costeiras apontadas pelo estudo que podem sofrer com um alto risco de inundação.

Dessa forma, os locais ficariam submersos. Em 2100, a situação é ainda mais preocupante, já que a porcentagem de risco aumentaria para 10%, caso as emissões de poluentes permaneçam no ritmo atual.

Conforme dados do Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Santos tem cerca de 420 mil habitantes, ou seja, entre 21 mil a 42 mil pessoas seriam diretamente afetadas com essas mudanças climáticas – com dados atuais.

Além de Santos, estão na lista da ONU, as seguintes cidades, na seguinte ordem: Guayaquil (Equador); Barranquilla (Colômbia); Rio de Janeiro (Brasil); Kingston (Jamaica); Cotonou (Benin), Calcutá (Índia); Perth (Austrália); Newcastle (Austrália) e Sydney (Austrália).

 

Prefeitura de Santos

Questionada sobre a divulgação do estudo da ONU e as mudanças climáticas, a Prefeitura de Santos destacou que vem adotando várias ações de destaque nacional. O Poder Municipal citou que Santos tornou-se a primeira cidade brasileira a criar um Plano Municipal de Mudanças Climáticas.

A Prefeitura ressaltou que em 2018, por meio de uma parceria com a Universidade de Campinas (SP), a Secretaria de Meio Ambiente (Semam) implantou barreiras submersas na Ponta da Praia. Conhecidos como geobags, essas barreiras submersas têm 275 metros de comprimento, sendo compostas por 49 sacos de geotêxtil em formato de ‘L’.

Elas estão instaladas em linha reta em frente à praia, a partir da mureta na altura da Rua Afonso Celso de Paula Lima. A função é diminuir a força das ondas.

Já a estrutura instalada paralela à praia, de 245 metros de extensão, tem o objetivo de ajudar a armazenar areia. No momento, estudos estão sendo feitos para a ampliação das barreiras de geobags, mediante análises técnicas e financeiras em andamento.

O projeto-piloto inédito no Brasil utiliza tecnologia de baixo custo, fácil manutenção (são sacos de areia) e baixa interferência ambiental. Paralelamente, a Semam criou, em 2019, a Seção de Mudanças Climáticas (SECLIMA), responsável pelo aprofundamento dos estudos científicos e planos de adaptação.

 

PACS

O Seclima foi o responsável pelo Plano de Ação Climática de Santos (PACS), lançado em 13 de janeiro de 2022, e hoje referência para os demais municípios brasileiros.

O PACS coloca em marcha a implementação de estratégias, diretrizes e metas de adaptação e mitigação para fazer frente à crise climática e às vulnerabilidades socioambientais presentes no município, considerando o cenário de intensificação das mudanças climáticas apontado nos últimos estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e confirmado no Sexto Relatório de Avaliação (AR6). O PACS possui 50 metas para serem cumpridas entre 2025 e 2050.

De acordo com o chefe da Seção de Mudanças Climáticas (Seclima),  Eduardo Kimoto Hosokawa, o Projeto Metrópole tem grande importância para Santos. Em 2015, Santos iniciou suas ações com foco nos desdobramentos das mudanças climáticas por meio da participação em estudo pioneiro. O estudo tem parceria com a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto Geológico de São Paulo.

Uma equipe internacional de cientistas analisou três cidades (Broward County, nos EUA; Selsey, na Inglaterra, e Santos).

Desse modo, o objetivo foi avaliar riscos e oportunidades decorrentes de impactos climáticos como a variação no nível do mar. Sobre o projeto Metrópole, ele é analisado com o pior cenário “Você pega a situação mais extrema com uma mudança climática agravada, com pior chuva, pior tempestade, maré de ressaca e elevação do nível do mar”.

Nesse projeto, foi utilizada a plataforma Coast (ferramentas de visualização), com isso pode-se observar os danos acumulados em prédios devido a inundação para 2050 e 2100 para a tempestade de 1 em cada 100 anos.

Além disso, há as alterações provocadas nos padrões climáticos pós revolução industrial, motivada pelas intervenções antrópicas (modo de vida moderno insustentável). “É necessário viver de forma sustentável e individualmente buscar ações positivas para viver melhor e compartilhar um planeta saudável”, ressalta Eduardo.

 

Estudo

Um grupo de pesquisadores da Universidade Santa Cecília fez a simulação para três cenários de alagamento. Em 2009, o NPH elaborou cenários com base das previsões do IPCC na época: de 0,5 centímetros; 1,0 e 1.50 metros, em relação ao nível máximo atual, até o fim do século.

No pior dos cenários previstos, o mar subiria 1,50 metros, e a Ponta da Praia, o Canal 3 e o Porto seriam os locais mais afetados, se não houver obras de contenção.

No cenário 1, só com um aumento de 0,50 m, nas marés mais altas, a faixa da praia ficaria encoberta pela água, e algumas pequenas áreas da Ponta da Praia seriam alagadas. As zonas Noroeste e Alemoa também sentiriam os efeitos. O Porto de Santos, por ter sua estrutura mais alta, ficaria nesta fase livre de inundações.

Já no cenário 2, com mais 1,0 metro , constata-se que toda a faixa da areia da praia e grande partes dos jardins seriam alagados a cada maré mais alta. Diversas pequenas áreas junto à praia seriam alagadas no bairro do Gonzaga, nas primeiras quadras junto ao Canal-3 e entre os Canais 4 a 6. Boa parte da Ponta da Praia seria atingida nas marés mais altas, assim como a área portuária das proximidades. A Zona Noroeste seria totalmente alagada.

Além disso, no cenário 3, com 1,50 m, seria o caos total na urbanização da Cidade. Grandes áreas de bairros seriam inundadas na altas marés. O porto seria duramente prejudicado.

 

Geólogo

O geólogo e professor do Departamento de Ciências do Mar e Instituto do Mar, Campus Baixada Santista UNIFESP, Emiliano Castro de Oliveira, comenta que a situação de Santos e região remonta ao passado histórico da Baixada Santista, local extremamente plano, que foi constituído com base em subidas e descidas do nível do mar que foram responsáveis por colocar as lentes de argila intercaladas com lentes de areia, provocando o entortamento dos prédios, visto hoje na orla da cidade, um fenômeno normal de se esperar para região.

“A previsão (da ONU) é correta e tem se mostrado otimista. Ela já está mostrando que isso já está acontecendo. Provavelmente o que vai acontecer será pior do que as previsões estão mostrando”, ressalta.

Conforme ele, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que divulga dados e informações e previsões, sempre coloca um cenário otimista, conservador e pessimista. “O que vem acontecendo tem estado além do cenário pessimista. Essa é a situação que estamos vivenciando agora. Com isso, os impactos vão ser visíveis e fortes e a ideia é que as cidades estejam preparadas para isso.”

 

Áreas atingidas

Segundo o geólogo, as áreas mais atingidas nesse contexto são trechos do estuário, porque a incidência das ondas não acontece, mas o nível do mar vai subir e ocupar as áreas habitadas pelas pessoas. “Com carência de processos de urbanização e carências de processo de intervenções urbanas que cuidem do saneamento mínimo das condições de vida e com esse problema. a situação será agravada ainda mais”.

A Ponta da Praia vai sofrer com essa subida do nível do mar, mas o problema maior serão os eventos de ondas, tempestades. “As ondas vão ser mais intensas, passando facilmente pela urbanização que existe no local, impactando o bairro de uma maneira mais frequente”.

“No Porto, pode ocorrer problema de operação eventual quando tiver a ocorrência das ondas, como as estruturas do Porto onde estão posicionadas mais adentro do canal com a construção dos atracadouros. Já outras não devem ser tão impactadas”.  Com a subida do nível do mar, a dragagem será até menos necessária, pois o mar vai estar mais alto e vai precisar cavar menos para os navios de grande porte. “Então isso não deve ser problema muito grande”, enfatiza.

 

Porto de Santos

A Autoridade Portuária de Santos esclarece que está atenta e engajada ao contexto das mudanças climáticas, de interesse e preocupação mundial e “já vem tomando medidas para refrear o aquecimento global e mitigar eventuais impactos que possam vir a prejudicar a eficiência portuária”.

Dentre as ações que se encontram em curso estão a Incorporação do tema “Mudanças Climáticas” no seu Plano Estratégico (o que permite a priorização do tema pela Administração da Companhia); Tratativas sobre transição energética;  Inventário de Gases de Efeito Estufa de acordo com metodologia da GHG Protocol, que deverá nortear tomadas de decisão que reduzam a pegada de carbono das atividades portuárias; Implementação de descontos tarifários para navios verdes, menos poluentes, e para terminais que apresentem eficiência operacional e ambiental (elaboração de inventário de gases de efeito estufa (GEE), diversificação da matriz energética e eletrificação de cais).

Ações de fiscalização voltadas à regularidade ambiental dos combustíveis utilizados pelos navios nas operações, em observância à diretrizes da Organização Marítima Internacional. E ainda:  Equilíbrio da matriz de transporte (de 33% para 40% – share do modal ferroviário até 2040); ações de educação ambiental e mudança de cultura.

É crucial tomar medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, adotar fontes de energia renovável e promover a sustentabilidade, a fim de mitigar os impactos das mudanças climáticas.

 

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