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Opiniões

04 DE JULHO DE 2013

Corporativismo

Por: Fernando De Maria

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Desta vez não foram os jovens empunhando bandeiras contra a corrupção. Primeiro, os caminhoneiros, carentes de atenção especial às reivindicações. Já os médicos pediam mais investimentos no setor e contra a proposta do Ministério da Saúde de importar estrangeiros. Neste último item, porém, está evidenciado o corporativismo de parcela dos profissionais, alegando que a importação colocará em risco a saúde da população brasileira. 
A média nacional de médicos é de 1,8 por mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. Recomenda-se 2,7 médicos por mil habitantes. Faltariam, portanto, 168.424 profissionais no mercado.
No site da entidade, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Geraldo Ferreira, diz que cerca de 17 mil médicos são lançados anualmente no mercado brasileiro. “Muitos estão desempregados, vivendo de bicos ou com contratos precários. Um concurso público nacional, com atrativos e salários decentes, resolveria o problema a curto prazo”. Ora, se faltam médicos é impossível um profissional estar desempregado, como apregoa o dirigente. 
A realidade é clara: há uma carência de profissionais  em áreas não tão badaladas financeiramente, como pediatria, psiquiatria, ortopedia, clínica geral, obstetrícia e ginecologia, por exemplo, justamente onde o Poder Público mais necessita.  Basta ver o perfil dos estudantes de Medicina. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina, 79% têm renda familiar superior a 10 salários mínimos e 30% acima de 30 salários mínimos. Com este perfil, quantos profissionais altruístas se habilitariam a trabalhar no interior ou nas periferias das cidades, geralmente sem estrutura?
No Brasil, mais de 1.900 municípios (34% do total) tem menos de um médico para 3 mil habitantes na atenção básica e 700 cidades sequer contam com um profissional residindo na cidade. 
As cidades da região também enfrentam problemas. Santos, com um sistema público de saúde razoável, necessita permanentemente de médicos. Hoje são os generalistas, clínicos e psiquiatras. Empregos, portanto, existem. A realidade é o que nem sempre os salários são atraentes e aí vale a lei da oferta e da procura.
O Ministério da Saúde dá preferência aos brasileiros, mas em razão desta carência abre a possibilidade para trazer estrangeiros, especialmente portugueses e espanhóis, hoje em crise financeira. Conforme o órgão,o médico estrangeiro se submeterá ao exame de validação do diploma e poderá exercer  a profissão em qualquer região ou terá autorização especial para atuação restrita nas áreas de escassez de médicos por um período fixo, sendo depois revalidado seu diploma pelo Revalida. Trata-se de algo emergencial.
O corporativismo fica evidenciado quando se constata que  quase a metade dos participantes do último exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo foram reprovados. Ou seja, se a preocupação é com a saúde da população, por que não atrair os estrangeiros, a medida que o nível de conhecimento não é satisfatório em metade dos recém-formados? Portanto, quem deve ter medo? Os médicos ou os pacientes? 

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