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Opiniões

10 DE SETEMBRO DE 2017

No país dos trapalhões

Por: Fernando De Maria

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A semana até parecia tranquila em Brasília, em razão do feriado de 7 de setembro. Porém, a pueril entrega pelos advogados dos empresários da JBS dos áudios complementares que seriam acrescentados à delação premiada encaminhada à Procuradoria Geral da República em cumprimento ao prazo – que fora ampliado pelo ministro Edson Fachin sem que os defensores tivessem se atentado a isso – de defesa dos irmãos Batista caíram como uma bomba e atingiram até a mais corte do País, alheia – aparentemente – aos escândalos que surgem diariamente no noticiário envolvendo membros do Executivo e Legislativo.

Nos áudios entregues pelos advogados foi incluída uma conversa demolidora superior a quatro horas de gravação entre Joesley Batista e, seu diretor, Ricardo Saud, delatores da JBS, cujo conteúdo não estava no script planejado por ambos. Nem dos advogados, pegos de surpresa, sob o risco de todo o acordo firmado até agora para livrá-los da cadeia ir literalmente por água abaixo.

As conversas, algumas expondo particularidades de figuras de destaque no cenário nacional, resvala em acusações contra políticos – o que não é novidade – mas também ministros do Supremo Tribunal Federal, sendo um deles “de forma grave”, conforme palavras do próprio procurador geral da República, Rodrigo Janot. A ministra e presidente do STF, Carmem Lúcia, veio a público pedir à Polícia Federal que investigue as citações de ministros da mais alta Corte do País.

Constrangido durante a entrevista coletiva onde relatou o ocorrido e anunciou a abertura de investigações, Janot, em contagem regressiva para saída do cargo, reconheceu que até seu ex-braço-direito, o ex-procurador da República, Marcelo Miller, pode ter se beneficiado do esquema montado pelos empresários, de irrigar os bolsos de todos que aparecessem na frente e que pudessem oferecer benesses para garantir o objetivo principal do grupo: se tornar a maior empresa de proteína animal do mundo, algo que ocorreu.

Este objetivo, porém, foi conseguido – sabe-se hoje – graças às manobras, favorecimentos, corrupção e outras ações criminais que os corruptores – em consonância com os corrompidos – souberam alimentar para engordar esta bilionária empresa.

Em nota, os dois fanfarrões pediram desculpas aos ministros do Supremo e ao procurador-geral da República por este ‘ato desrespeitoso e vergonhoso’, como se isso fosse suficiente para livrá-los de um risco provável. Que a delação seja revista e assim o destino dos ‘trapalhões’ seja a cadeia, onde, aliás, deveriam estar, se este fosse um País sério. As galhofas – disponíveis em áudio – expõem o que o estadista francês Charles de Gaulle falou certa vez: que o Brasil não é um País sério.

Enquanto isso, cabe à plateia assistir, impávida, ao Cirque du Soleil armado em Brasília. Até quando?

 

PS.: Joesley Batista e Ricardo Saud se entregaram à Polícia Federal neste domingo e irão para Brasília, após decisão do ministro Edson Fachin. Sem contar na prisão do ex-ministro Geddel Vieira. A semana promete ser quente.

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