Teatro dos vampiros | Boqnews

Opiniões

04 DE DEZEMBRO DE 2016

Teatro dos vampiros

Por: Fernando De Maria

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Como sempre ocorre quando se sentem acuados, os políticos – de forma geral – usam de todas as artimanhas para se livrar de qualquer risco de prejudicar seus objetivos, muitas vezes voltados meramente aos interesses pessoais. E cada vez mais a Câmara Federal se aproxima de um palco teatral, onde os representantes populares se assemelham a personagens do bem, como Dr. Jekyll, na frente das câmeras de TV, e se tornam na realidade o Mr. Hyde nas penumbras do poder em paródia ao clássico O Médico e o Monstro.

O último exemplo é a vergonhosa votação defendida pelos deputados na madrugada de terça para quarta, quando a maioria dos parlamentares destroçaram a proposta feita pelo Ministério Público contendo dez medidas de combate à corrupção para facilitar e punir atos envolvendo agentes públicos, com ou sem mandato, que se envolvam nesta praga que assola os mais variados níveis do Poder.

Na realidade, a encenação começou na semana anterior, na tentativa infrutífera de votar o projeto em bloco – e não nominal – sob o risco claro de se incluir a anistia ao Caixa 2. Diante da repercussão negativa, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Renan Calheiros e Michel Temer convocaram uma coletiva em pleno domingo para garantir que não aprovariam qualquer tentativa de anistiar o caixa 2, tema central do patético enredo até então. Eram os verdadeiros Jekylls, que procuravam atender aos anseios da população. Percebe-se depois que tudo era uma encenação pública e o pior estaria por vir.

A tragédia que atingiu a delegação da equipe da Chapecoense, diretores, empresários, jornalistas, radialistas e demais profissionais, dizimando 71 vidas, ocorrida horas antes na Colômbia, não foi suficiente para demover o presidente Rodrigo Maia (DEM) da decisão de votar a proposta.
Ou seja, enquanto o País chorava a tragédia e tentava entender o que havia ocorrido, de forma sorrateira, nossos representantes faziam cirúrgicas intervenções na proposta do Ministério Público, que obteve as assinaturas de 2,4 milhões brasileiros

Realmente, não houve anistia ao caixa 2, objeto da entrevista coletiva no domingo, mas as mudanças no texto original transformaram a proposta em um verdadeiro Frankenstein, colocando em risco a própria sobrevivência da Operação Lava-Jato e seus desdobramentos.

Não bastasse à votação sorrateira, impressionou a pressa com o qual o Senado tentou colocar a proposta em votação, já no mesmo dia. Diante dos holofotes midiáticos, os senadores tiveram bom senso e recuaram na votação do que sobrou da proposta. Se é que sobrou…

Diante deste assombro vampiresco de boa parcela dos nossos políticos, a plateia resolveu arregaçar as mangas e novas manifestações estão programadas neste domingo (4) por todo o País contra as alterações enviadas ao Senado, que limitam o poder do MP, procuradores e Judiciário em geral.

Obviamente que excessos praticados por juízes e promotores devem ser punidos, se comprovados atos criminosos, mas não podem ser impeditivos para que investigações contra agentes públicos sejam evitadas, o que confirmaria a tese que o crime compensa no Brasil.

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