Em reconhecimento aos impactos negativos da pandemia de covid-19 no aspecto emocional da população, a Prefeitura de Santos criará um Departamento de Saúde Mental, na estrutura da Secretaria Municipal de Saúde.
Para comandar o setor foi escolhido o psiquiatra, professor e doutor em Saúde Coletiva Roberto Tykanori Kinoshita. A novidade foi anunciada na manhã da segunda-feira (30), pelo prefeito Rogério Santos. A escolha ocorreu durante o encontro ‘A Saúde Mental e a Cidade’, ministrado pelo profissional dentro da programação do Janeiro Branco, realizado no Museu Pelé.
“Em razão das restrições que passamos durante a pandemia e desse mundo das redes sociais em que vivemos, vimos a demanda em relação à saúde mental aumentar, e sabemos que a política nacional de assistência a estes casos está muito defasada. Por isso, nosso foco, este ano, será a saúde mental”, afirmou o prefeito.
O foco da palestra de Tykanori foi a relação entre desigualdade social e saúde mental, ponto que pretende explorar assim que assumir o departamento. “É preciso enfrentar a desigualdade no dia a dia dos centros de atenção psicossocial (Caps). Descobrir o contexto social no qual as pessoas vivem dá abertura a outras formas de intervenção, além do medicamento. Dessa forma, é possível ampliar o escopo de ação e análise da rede”, afirmou o psiquiatra.
Impactos
Nos últimos tempos, a Saúde Mental de Santos teve acréscimo de 30% nos atendimentos com a chegada de pessoas que perderam convênio médico. Bem como devido ao aumento de doenças como depressão e ansiedade, explicou o secretário municipal de Saúde (SMS), Adriano Catapreta.
“Então resolvemos montar um departamento específico para a Saúde Mental, que assim ganha mais força, com uma pessoa olhando especificamente para isso, um profissional com experiência realmente muito vasta na área. Tenho certeza de que, junto do doutor Tykanori, vamos montar um setor de extrema qualidade em Santos”, disse o titular da pasta de Saúde.
Além disso, Catapreta ainda frisa investimentos na área que vêm ocorrendo desde o ano passado, como capacitação dos servidores da SMS, a reestruturação de pessoal e a realocação do Caps Álcool e Drogas (AD) para um novo prédio. “Unidade que, assim que receber profissionais o suficiente, passará a atender 24h”, afirmou o secretário.
Departamento
Atualmente configurada como Coordenadoria de Saúde Mental, o órgão da SMS ganhará mais autonomia ao se transformar em departamento, explica a atual coordenadora da área, Letícia Katarine Ferreira dos Santos.
“Significa estar nos espaços para pleitear as necessidades da rede e criar um elo de comunicação mais próximo aos outros departamentos da secretaria.
Assim como com as outras secretarias, porque temos uma relação muito próxima com as pastas de Desenvolvimento Social (Seds), Educação (Seduc) e, agora, também com a da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos (Semulher)”.
A profissional explica que a atenção psicossocial do Município é composta por diversos serviços, frentes que poderão ter ampliações com a reestruturação do órgão.
Contudo, entre as iniciativas, Letícia cita o trabalho de reabilitação psicossocial com foco em atividades laborais.
Sendo assim, como geração de renda, as residências terapêuticas para pacientes com vínculos familiares rompidos e os nove Caps (cinco para adultos com funcionamento 24h; três infantojuvenis, sendo um 24h; um AD (álcool e drogras, também 24h).
“O departamento vai olhar para algumas questões que não eram tão consideradas, como o aumento de funcionários, para os trabalhos territoriais, que exigem mais pessoal, e a ampliação desses serviços. Quanto mais investimento na área, melhor devolveremos essas condições de cuidado para os munícipes e de trabalho para os servidores”, afirmou a coordenadora.
No entanto, para o futuro chefe do órgão, construir uma política de saúde mental atualizada é um desafio. “Mas eu gosto de desafios, então estou contente. Acho que a Prefeitura faz muito bem em investir em um órgão voltado à saúde mental; é um sinal de real investimento na área”, afirmou Tykanori.
Roberto Tykanori
Graduado em medicina há 40 anos, Roberto Tykanori Kinoshita possui doutorado em Saúde Coletiva e especialização na área de Psiquiatria.
Atualmente, atua como médico na Prefeitura de Santos e professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além de já ter desempenhado o papel de coordenador de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas no Ministério da Saúde.