A abertura da concorrência no mercado de gás natural no Brasil que, majoritariamente, é controlado pela Petrobras, ganhou novos capítulos em julho de 2020.
Um deles foi o lançamento do programa federal Novo Mercado de Gás.
O outro foi a aprovação do pedido de urgência do projeto de lei 6.407 de 2013, que altera o marco legal do setor de gás natural e tramita há um ano no plenário da Câmara.
A expectativa é de que o incentivo ao abastecimento de gás natural repercuta em diferentes setores econômicos.
“Na prática, é gerar livre concorrência entre diversas empresas do setor. A abertura gera a expectativa de redução dos preços praticados, que beneficiaria indústrias e termelétricas, por exemplo, chegando até o consumidor final”, analisou o engenheiro da empresa de energia temporária Tecnogera, Jorge Moreno.
De acordo com o governo federal, o Novo Mercado de Gás elenca medidas para toda a cadeia de valor do gás natural, da produção à distribuição, para obter uso mais eficiente da infraestrutura existente, atrair novos investimentos e promover a concorrência no mercado.
Gás natural
O programa pretende harmonizar as regulações estaduais e federal, integrar o setor de gás com os setores elétrico e industrial e remover barreiras tributárias para criar condições para redução do preço e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento econômico, respeitando a competência dos Estados.
“Para se ter uma ideia, o preço do gás natural do Brasil custa cerca de US$ 10,00 por milhão de BTU. Em países desenvolvidos, o preço é da ordem de US$ 3,00 a US$ 7,00 por milhão de BTU. Ainda há de se levar em consideração que o Brasil não é autossuficiente na produção e, portanto, está sujeito ao câmbio de boa parte do gás que consome”, ponderou Jorge Moreno.
Com a legislação atualizada, o governo calcula uma queda no custo do gás de até 40% e a atração de mais de R$ 40 bilhões em investimentos privados, especialmente nas etapas de escoamento e de transporte.
“O Brasil ainda terá que criar infraestrutura de gasodutos, pois a capilaridade atual ainda é baixa, como também as unidades de tratamento”, destacou o engenheiro da empresa de energia temporária.
Vantagens do uso do gás natural
Portanto, a ampliação do acesso ao gás pode movimentar diferentes setores da economia.
No agronegócio, é a matéria-prima para a fabricação de fertilizantes e poderia gerar impactos positivos na oferta de amônia para os fabricantes.
Se a produção for ampliada, se torna uma opção de abastecimento de energia mais barata e limpa que outros combustíveis fósseis, contribuindo para a redução dos custos variáveis para empresas de laticínios, ração e processadoras de matérias-primas.
Isso pode aumentar a competitividade agropecuária brasileira no exterior, conforme especialistas e políticos envolvidos com a tramitação do novo marco legal do gás.
Além da agricultura e da pecuária seria uma opção para grandes indústrias como siderúrgicas e termelétricas.
Elas poderiam optar pela instalação de alto fornos a gás natural para apoiar o abastecimento das unidades, o que levaria à diminuição do custo da energia elétrica utilizadas por elas.
A possibilidade de não depender apenas do abastecimento das concessionárias também pode incluir outros beneficiados.
“Indústrias, shoppings, hotéis, hospitais e outros setores poderão se beneficiar viabilizando projetos de cogeração de energia através de grupos geradores a gás natural.
Empresas do setor de energia poderão oferecer centrais de cogeração de energia para fornecimento de energia, vapor e/ou água quente a um custo menor do que estes setores estão pagando atualmente”, explicou Moreno.
Popularização dos geradores a gás
Dessa forma, o aluguel de geradores também está entre os que podem receber um impacto positivo pela ampliação do mercado do gás no Brasil.
Portanto, o modelo a gás não exige armazenamento de combustível, que são fornecidos pelas concessionárias locais e possui menor impacto ecológico.
Além disso, a tecnologia do modelo a gás vem sendo aperfeiçoada, permitindo a otimização da velocidade de aproximação do motor, integração em paralelo e motores bicombustível, que combinam gás e diesel.
Dessa forma, pode atender pequenos comércios, condomínios e levar energia a quem mora em áreas remotas, os consumidores no Sistema Isolado, como explicou o engenheiro Jorge Moreno.
“Grande parte da geração é feita através de térmicas a diesel devido à impossibilidade de se conectarem ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”.
“Dada a esta dificuldade de acesso, ainda levará muito tempo para estas cidades se conectarem e se beneficiarem de uma energia mais barata. Neste caso, há de se pensar na viabilização da utilização de gás natural em substituição ao diesel”.
Assim, este tipo de equipamento não é recomendado para uso em ambientes críticos, como hospitais e grandes obras, porque está sujeito a falhas no abastecimento de gás ou rompimentos de tubulação.
Além disso, deve-se tomar as precauções necessárias porque o gás é inflamável e qualquer vazamento pode resultar em um acidente de grandes proporções.